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domingo, 16 de fevereiro de 2025
sexta-feira, 19 de abril de 2024
quarta-feira, 18 de julho de 2018
O SBSR já foi
Cacete !
Estou com a Blitz na mão e aparece-me o cartaz deste fim-de-semana. Vem aí mais um Super Bock - Super Rock.
Mais um, o caraças. Já não é.
O SBSR era o Meco inteirinho. O SBSR era deixar a cidade à sexta e atravessar a ponte em cima da Vespa ie-ie e parecer que mudávamos de mundo. Eram os esses da nacional para acabar no Cabeço da Flauta e entender que não havia melhor nome para uma loja de concertos.
Era a praiinha no dia depois com sabor a choco frito e salada de polvo. Era sempre a casa da Susaninha e acordar ao meio dia do dia seguinte no meio de pessoas que não conhecíamos e que liam a Rolling Stone ou mostravam o biquini novo, enquanto o sábado à noite demorava. Era uma play-list do i-pod dos outros que ouvimos (com o desdém que se impõe) enquanto damos um mergulho entediado.
O SBSR era outra coisa. Era pó. Era aquela miúda de 20 anos já bem perto de Alfarim que
implorava: "LEVA-ME !"
O que não era era uma Expo limpinha, certinha e toda arrumadinha e em que o som é tudo o que está a mais.
O SBSR era um bocado isto, isto e isto. Que se lixe.
Estou com a Blitz na mão e aparece-me o cartaz deste fim-de-semana. Vem aí mais um Super Bock - Super Rock.
Mais um, o caraças. Já não é.
O SBSR era o Meco inteirinho. O SBSR era deixar a cidade à sexta e atravessar a ponte em cima da Vespa ie-ie e parecer que mudávamos de mundo. Eram os esses da nacional para acabar no Cabeço da Flauta e entender que não havia melhor nome para uma loja de concertos.
Era a praiinha no dia depois com sabor a choco frito e salada de polvo. Era sempre a casa da Susaninha e acordar ao meio dia do dia seguinte no meio de pessoas que não conhecíamos e que liam a Rolling Stone ou mostravam o biquini novo, enquanto o sábado à noite demorava. Era uma play-list do i-pod dos outros que ouvimos (com o desdém que se impõe) enquanto damos um mergulho entediado.
O SBSR era outra coisa. Era pó. Era aquela miúda de 20 anos já bem perto de Alfarim que
implorava: "LEVA-ME !"
O que não era era uma Expo limpinha, certinha e toda arrumadinha e em que o som é tudo o que está a mais.
O SBSR era um bocado isto, isto e isto. Que se lixe.
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terça-feira, 30 de maio de 2017
O terceiro filho da Loba
Amo Roma. Desde que lá comecei a ir, tinha 13 anos. Depois voltei. Uma, duas, três vezes. Na última nem podia andar, mas fomos felizes numa Vespa à Nanni Moretti que tornou o mapa mais fácil e permitiu a viagem, desenhando esses e mais esses por todas as ruelas e avenidas. De que saltávamos para um gelato e um café.
De Roma guardei sempre o prazer pela vida. A alegria e o apetite pelas coisas boas e lindas que ela nos pode dar. Fosse num beco da via Margutta, na 'Fabriano', onde se compram lápis e cadernos, ou numa igreja onde nunca entrámos antes e cujos tectos nos comovem, e que nos salva do calor ocre e húmido antes de nos mandar para uma esplanada no Campo dei Fiori. A Grande Beleza.
Amo Roma.
E Totti é tutta la Roma. Não precisou de vencer muitos títulos pela nossa amada cidade, mas é. Um campeonato, duas Taças de Itália e duas Supertaças. E essa história acaba aqui.
Não é, então, por isso qu'il Capitano ganhou o respeito da história. Nem sequer por ter sido campeão do mundo, quatro meses depois de uma fractura do perónio de que recuperou contra médicos e prognósticos, só porque queria. Como se antecipasse o destino que o faria desempatar um 0-0 horrível no prolongamento dos oitavos de final contra a Austrália com um penalty marcado ao ângulo. Não. Não é por isso.
É que no mundo-cão do futebol é coisa rara tanta devoção por um só clube e pela cidade que nos criou. No meio de tanto mercenário, de centenas que só vêem fama, instagram, prémios e dinheiro, este príncipe fez diferente e escolheu o amor puro. Que só se tem quando se é menino. Pela terra e pela família.
E, mesmo que o tivessem dado tantas vezes como acabado, sempre com a alegria de quem ainda brinca no bairro. Sempre com um bocadinho mais de Arte para oferecer... bem, a... todos.
Agora, com 40 anos (olha outro desta geração), fez o último jogo pelos giallorossi e diz que tem medo. Vai deixar a loba do Capitólio e eu não sei quem fica mais órfão: se ela, se nós, que amamos o futebol e o eterno regresso a Casa.
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quinta-feira, 25 de julho de 2013
A hell of a place to make a country *
Lisboa. Já passa um bocado da meia noite e a Vespa talvez ziguezagueie um pouco mais do que devia. E não é só para fugir aos carris dos eléctricos ou não tropeçar nos vestidos que passam na rua.
Descemos a Madalena para aterrar no Martim Moniz onde os pirilampos da polícia já mandam encostar.
- Boa noite, Senhor Condutor.
(enquanto bate a Continência)
(enquanto bate a Continência)
O Condutor não fica sem voz, não perde a calma e também faz a Continência. Será louco ?!?
- Venho a cumprir a lei, Sr. Agente.
- Isso é o que vamos ver. Documentos, por favor.
- Tome.
- Está-me a dar só o registo. Carta e Seguro ?
- Certo, aqui os tem.
- Bebeu ?
- Sim, acabámos de jantar. Bebi um vinho, claro.- Já alguma vez soprou no balão ?
- Sim.
- Então já sabe como é. Sopre aqui até eu dizer para parar.
- (...)
À primeira não sopra bem. O instinto funciona assim.
À segunda.
- Ui. 0,87.
A degustação dos vinhos, bem acamadinhos, tinha feito os primeiros estragos. As papilas estavam todas acordadas e não davam mostras de cansaço ou timidez.
O Pedro tinha-nos dito que a prova podia ser muito boa ou excelente. 6 vinhos para acompanhar cada prato. E cada prato decide o dono da cozinha. Gosto. Cada vez com menos paciência para escolher o que comer. Devia ser sempre assim.
"O objectivo não é embriagar-vos, embora possam."
Um Bruto para limpar, depois os brancos. Para começar um Casal Santa Maria, de Lisboa, os Douros, um verde Alvarinho, um tinto para a carne. Acabamos com um Madeira doce, quando já nos entregámos completamente à nossa sorte. Toda a noite os vinhos a tentarem bater o prato que vinha para a mesa. A conseguirem.
Um Bruto para limpar, depois os brancos. Para começar um Casal Santa Maria, de Lisboa, os Douros, um verde Alvarinho, um tinto para a carne. Acabamos com um Madeira doce, quando já nos entregámos completamente à nossa sorte. Toda a noite os vinhos a tentarem bater o prato que vinha para a mesa. A conseguirem.
Do São Pedro de Alcântara adora-se Lisboa.
- Ui. 0,87.
Mas é aí que o homem salva o homem, e nos são dadas provas da compaixão de que os portugueses são felizmente vítimas abençoadas. Porque esta merda não é a puta da Alemanha, diz o irmão de sangue.
A verdade é que ainda estou para perceber, mas...
A verdade é que ainda estou para perceber, mas...
- Ó Sr. Condutor, porque é que não vai ali dar uma volta, beber um café, e depois regressa para soprar novamente ?
O Sr. Condutor vai. E a compaixão humana também o segue. Hoje deve ter saído com alguma espécie de auréola e ainda não percebeu. Ou então são os olhos de cordeiro manso. Ou a continência que fez quando chegou ao polícia. Ou a mamma atrás a pedir clemência, que tem 3 filhos.
Num dos botecos da praça (que matam a sede com o que for preciso), aparece-nos um tipo que estava a olhar para a cena. Parece berbére e só lhe falta o turbante. De calções e dois brincos a reluzir, pergunta-nos: "Então, quanto é que acusou ?", e logo a seguir: "Eh, pá ! Venham cá. Sou dono disto. Bebe esta limãozada e um café e esta água."
Quero pagar e ele não aceita. "Ouve, já me apanharam várias vezes. E tenho a mota toda quitada, por isso não posso sair agora, senão estou fodido. Ficamos agora aqui. Não sou português." E põe-me o braço por cima.Confirmo que a mota dele está toda a cair e com fita gomada a segurar os bocados. Confirmo que só diz que não é português porque agora ninguém quer ser deste país. Como o tipo que nos prepara o remédio. Filho de pai suiço, mas nascido em Loures de mãe portuguesa.
"Também não sou português. Da última vez que me apanharam, tinha 2,21, e já tinha ido a casa e dormido !"
Afinal, não é um boteco. É um clube.
Acabo as zurrapas miseráveis que me arruinam o jantar e assassinam as papilas. Mas salvam a humanidade e regresso à fiel. Olhei para ela com pena. Parecia só. A Vespa esperou 5 anos pelo nome mas sai daqui baptizada: a Fiel.
- Vá-se lá embora, Sr. Condutor. Esta polícia nunca o mandou parar. Vão para onde ?
- É já para ali.
Ele acredita. Todos merecemos uma oportunidade.
Olhamos à volta. A massa de turistas já percorre o Rossio e todas as avenidas.
* também se podia chamar as minhas aventuras na república portuguesa, mas depois era plágio.
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sexta-feira, 19 de julho de 2013
Saem de todos os lados
Tenho a certeza que o Chiado no Verão só existe para nos atormentar.
E quem diz Chiado, diz o resto.
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terça-feira, 9 de julho de 2013
O nº 9 do FutSábado
O Advogado levanta-se cedo. Culpa do calor africano que arrasa a cidade.
O Advogado responde ao calor nas noitadas que faz à varanda e que o obrigam a dormir ainda menos. Mas é justo. A vida é chupar os melhores bocados.
Levanta-se cedo e despe a toga. Entrega os filhos mais velhos à mãe para a natação e a mais novinha à Avó, que hoje é dia de bola.
Agora é de novo puto. Bebe um copo de água e vai com a fome toda para o jogo. Hoje é dia para ganhar. Sai cedinho e pega na Vespa para ir mais fresco e leve. Leva uma garrafa de meio litro de água da torneira para o "brasileirão" que é como fica o campo do Rainha Dª. Amélia no pico do Verão.
O jogo começa. Raspa, como é tratado pelos amigos (em homenagem às histórias do Pratt), olha para a equipa e só vê avançados. E do outro lado é só vedetas. Isto hoje vai ser complicado. Olha para o céu: "Onde estás João Tiago ? Onde estás Captain Mir. ?"
Humilde como nunca, decide que hoje irá jogar a defesa direito, com sorte subirá no terreno para médio direito, mas avançado, hoje não. Deixo para os outros.
Raspa cruza-se com o miúdo de 20 anos que é a nova coqueluche da equipa, e que entra vagarosamente em campo e com as meias em baixo. Lembra-se então das palavras sábias de JT. "Tens de os acarinhar. Não grites com eles." Nunca é tarde para mudarmos e seguir os bons conselhos que nos dão.
“Aqui está o melhor jogador do torneio !”, digo. E os lábios do puto rasgam-se de lado a lado. 1-0. Raspa promete também que hoje não se vai chatear com o outro avançado que nunca dá a bola.
E vai logo para o seu lugar. Jogar atrás é coisa nova, vamos ver é no que dá. O importante é o joelho aguentar.
A bola começa a rodar. Do outro lado, o atraso de 15 minutos do Calhas (encarregue de levar a mais velha ao ballet !), permite que a equipa de Raspa comece o jogo a vencer por 4-1. Culpa do Hortelão, da coqueluche e do avançado que só vê baliza. Calhas entra e começa a acontecer futebol. O jogo entra num ritmo louco de parada-resposta. Raspa faz o que pode e até faz razoavelmente bem, numa de não comprometer. Com o Manuel velho a comandar, centralão e homem experiente, a pôr-lhe sempre a bola nos pés, Raspa já manda no corredor direito. Raspa agradece e coloca a bola em profundidade para um golo fácil de Hortelão. Mas a equipa das vedetas começa a bailar. Calhas atrás, Gil "Iniesta" no meio, combinações perfeitas com o Tiago Tom Cruise. Todos que é só classe. Na baliza vamos rodando. É a vez de Raspa. Ui. De repente, só ouve à sua frente Calhas a berrar: “TIAGO, PASSA A BOLA !” Completamente isolado, Calhas fuzila Raspa, e mete a bola lá onde a coruja faz o ninho. Raspa cumprimenta Calhas. Logo a seguir é Gil a fazer o golo do jogo. Parece o Gaitán no jogo com o Estoril. Entra ao primeiro poste e de calcanhar todo no ar, mete o esférico nas redes, bem rentinho.
O jogo está empatado. 6-6. O calor é dos demónios. Raspa já refrescou a cabeça duas vezes (com a bendita garrafa).
A boa moral diz que não devemos alegrar-nos com o mal dos outros, mas é depois de uma arrancada descompensada do avançado que não dá a bola, e que acaba lesionado, que a equipa de Raspa começa finalmente a brilhar. Raspa compadece-se do parceiro e diz-lhe para ir para a baliza, que obedece agradecido. Raspa vai para médio ala direito, onde se vai sentir dramaticamente confortável, e sacode para Calhas: “Podes começar a tirar notas !” Raspa surpreendentemente fresco, começa a trocar a bola com um Miguel que se ajeita com Raspa. Raspa faz uma assistência digna de Pablo Aimar e Miguel marca. A seguir, a bola já está em Raspa, que cavalga toda a linha direita, e remata cruzado para a baliza, mas vai ao poste. Logo depois, Raspa produz mais uma assistência, depois de tirar a bola da defesa, que vai para a coqueluche e que termina a jogada com um golo do outro mundo, de fora da área. Vem agradecer a Raspa duplamente os votos de confiança. Já vai em 8-6.
Do lado direito, continua o show Raspa. Desta vez remate brutal após passe do puto mais novo, e defesa impossível do Redes dos outros. Para a próxima entra, pensa Raspa. Calhas também percebe. Começa a dar pau sem bola em Raspa quando se vai chutar de canto. Não lhe consegue arrancar o sorriso. A bola sobra para o médio centro. Raspa percebe onde ele vai colocar a bola, levanta a mão, e o cruzamento sai belo e largo ao segundo poste, onde aparece Raspa, bem atrás das costas do Bruno Gigante, a cabecear para o fundo da baliza !!!!!! Estava feito o primeiro da conta de Raspa, o nº 9 do FutSábado. Tarde mas a tempo. E 9-6 no marcador.
Do outro lado, o sol faz mossa. Raspa molha mais a cabeça e continua a jogar em ritmo samba. Manuel velho mete-lhe a bola, sempre para a direita. Raspa tira um da frente, faz tabelinha com o Miguel, sempre ele, recebe e devolve. E golo. 10-6. Raspa atira para a geral: “Aqui há já dois tipos que estão a jogar de olhos fechados.”
Ainda tempo para mais um. O avançado centro toca de calcanhar para Raspa, que lhe devolve à entrada da área. Tem três defesa mais o Redes à sua frente, recebe a bola com jeitinho e pára. Sente o mundo. Todos param também para ver como Raspa vai resolver. Raspa olha para a baliza e coloca a bola, pelo meio das pernas do primeiro, para se encaixar bem no cantinho. 11-6.
Com o resultado feito, Calhas ainda reduz para o 11-7 final, num remate bem colocado. Acaba o jogo quando o calor é quase sobre-humano. De joelho remendado, Raspa volta a ser pretendido pelos colossos do bairro.
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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
A origem das espécies
« (...)
- É essa a raiz da realidade europeia, hoje, onde certas elites falam nos "preguiçosos do Sul" face aos "competentes do Norte" ?
- A raiz histórica está mais atrás, no luteranismo. O ódio do Norte ao Sul vem da inveja. Eles não suportam o nosso sol, a boa comida, certa moderação nos costumes, na maneira de viver e de trabalhar. Os povos do Norte foram sempre organizados, como queria Lutero - um bandido do pior. No Sul também havia grandes bandidos, alguns papas, como Alexandre VI. Essa divisão entre luteranismo e catolicismo atravessa, hoje, a Europa. Antes de os países do Norte falarem de Portugal, que desprezam, e da Grécia, que ignoram, passaram séculos a falar da Itália. Mas é uma das maiores economias da Europa e funciona tão bem como o Norte - e este não perdoa isso. "Tanta criatividade, come-se tão bem, levámos séculos a fazer coisas e não construímos nada [tão único] como Roma..."»
entrevista a António Mega Ferreira, 'Visão', 31 de Janeiro de 2013
- É essa a raiz da realidade europeia, hoje, onde certas elites falam nos "preguiçosos do Sul" face aos "competentes do Norte" ?
- A raiz histórica está mais atrás, no luteranismo. O ódio do Norte ao Sul vem da inveja. Eles não suportam o nosso sol, a boa comida, certa moderação nos costumes, na maneira de viver e de trabalhar. Os povos do Norte foram sempre organizados, como queria Lutero - um bandido do pior. No Sul também havia grandes bandidos, alguns papas, como Alexandre VI. Essa divisão entre luteranismo e catolicismo atravessa, hoje, a Europa. Antes de os países do Norte falarem de Portugal, que desprezam, e da Grécia, que ignoram, passaram séculos a falar da Itália. Mas é uma das maiores economias da Europa e funciona tão bem como o Norte - e este não perdoa isso. "Tanta criatividade, come-se tão bem, levámos séculos a fazer coisas e não construímos nada [tão único] como Roma..."»
entrevista a António Mega Ferreira, 'Visão', 31 de Janeiro de 2013
Roma, in vespa, Outubro de 2010
(foto: andré)
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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
tudo demasiado perfeito para ser verdade
A noite era perfeita. Era Benfica.
Os astros estavam todos alinhados.
Os aguaceiros da manhã tinham acalmado e o tempo dava só frio de época.
Não ligo nada aos astros, mas comecei a acreditar neles quando, a caminho do Estádio, ainda não tinha entrado na CRIL, me apercebo da escolta ao autocarro do clube da VCI mesmo atrás de mim.
Caramba, pá !, isto não acontece todos os dias. Comecei a acelerar na mota para os perseguir. Como é evidente, senti logo uns sacanas à paisana a empurrarem-me para a berma. O meu orgulhoso cachecol vermelho e branco deve tê-los atormentado e a coragem da Vespa também. Deixei apenas que achassem que me controlavam. Só na primeira curva. Depois, já na CRIL consegui alcançar a primeira carrinha da polícia que guardava as costas ao autocarro azul. Lá dentro um polícia sentado disse-me que não com o dedo.
Não tinha bolas de golfe, como é óbvio, mas achei que aquele triste autocarro devia chegar à Luz com um benfiquista na comitiva.
Só à chegada consegui ultrapassá-los. Fiz aquilo que qualquer um faria.
A noite realmente prometia.
Depois de apanhar o parceiro da bola e da bifana nas roulotes, o Estádio lindo como ele só.
A águia em voo de rapina, o hino e a cor mais bonita que há no mundo.
Começa o jogo e, apesar das duas abébias, ofertas da casa, o coração gigante com golos tremendos a colocar tudo na ordem. Quando o coração fala assim, só é preciso espetar bem a faca. Cheirava-se o medo.
Intervalo. Chega a confirmação que estava a pedir.
Sentado na nossa bancada avisto Schwarz, Stefan Schwarz, o último sueco campeão nacional.
Os meus olhos devem ter iluminado a noite. Fui cumprimentá-lo, é claro.
"- Foste um jogador do caralho ! Um dos maiores. Que golão meteste contra o CSKA aqui na Luz !", devo ter gritado.
"- No segundo tempo, vai ser melhor.", respondeu.
Achámos que os astros não podiam mentir. Afinal, ele deve saber. Ele jogou. Com a nossa camisola.
Regressámos para a segunda parte. O Benfica vem a dormir. Entrega a bola ao adversário, que não sabe que futebol é golos. Não quer saber. Para eles o empate é bom e chega.
Mas aos 76 minutos, o número 7, aquele Tacuara, isola- se. Nico coloca-lhe a bola com a magia do predestinado. E é aqui que os astros nos traem. É aqui que eles nos mentem e ficamos com a certeza que é a vida que faz tudo acontecer.
E a vida ensina-nos muito. Não se pode viver só do futebol.
De uma arena de touros podemos trazer muitas lições, por exemplo, quando a vida pode estar presa por cordéis. E por isso é que é precisa a estocada final, quando o matador entra em cena.
Hoje Tacuara não foi o matador. Não foi Ordoñez ou Dominguín. E isso é triste, porque devemos acabar o que começamos, porque não devemos ficar abaixo do que podemos.
No fim do jogo, o contentamento no rosto dos adversários mostrava bem quem é que hoje ganhou pontos.
Os astros estavam todos alinhados.
Os aguaceiros da manhã tinham acalmado e o tempo dava só frio de época.
Não ligo nada aos astros, mas comecei a acreditar neles quando, a caminho do Estádio, ainda não tinha entrado na CRIL, me apercebo da escolta ao autocarro do clube da VCI mesmo atrás de mim.
Caramba, pá !, isto não acontece todos os dias. Comecei a acelerar na mota para os perseguir. Como é evidente, senti logo uns sacanas à paisana a empurrarem-me para a berma. O meu orgulhoso cachecol vermelho e branco deve tê-los atormentado e a coragem da Vespa também. Deixei apenas que achassem que me controlavam. Só na primeira curva. Depois, já na CRIL consegui alcançar a primeira carrinha da polícia que guardava as costas ao autocarro azul. Lá dentro um polícia sentado disse-me que não com o dedo.
Não tinha bolas de golfe, como é óbvio, mas achei que aquele triste autocarro devia chegar à Luz com um benfiquista na comitiva.
Só à chegada consegui ultrapassá-los. Fiz aquilo que qualquer um faria.
A noite realmente prometia.
Depois de apanhar o parceiro da bola e da bifana nas roulotes, o Estádio lindo como ele só.
A águia em voo de rapina, o hino e a cor mais bonita que há no mundo.
(foto: andré)
Intervalo. Chega a confirmação que estava a pedir.
Sentado na nossa bancada avisto Schwarz, Stefan Schwarz, o último sueco campeão nacional.
Os meus olhos devem ter iluminado a noite. Fui cumprimentá-lo, é claro.
"- Foste um jogador do caralho ! Um dos maiores. Que golão meteste contra o CSKA aqui na Luz !", devo ter gritado.
"- No segundo tempo, vai ser melhor.", respondeu.
Achámos que os astros não podiam mentir. Afinal, ele deve saber. Ele jogou. Com a nossa camisola.
Regressámos para a segunda parte. O Benfica vem a dormir. Entrega a bola ao adversário, que não sabe que futebol é golos. Não quer saber. Para eles o empate é bom e chega.
Mas aos 76 minutos, o número 7, aquele Tacuara, isola- se. Nico coloca-lhe a bola com a magia do predestinado. E é aqui que os astros nos traem. É aqui que eles nos mentem e ficamos com a certeza que é a vida que faz tudo acontecer.
E a vida ensina-nos muito. Não se pode viver só do futebol.
De uma arena de touros podemos trazer muitas lições, por exemplo, quando a vida pode estar presa por cordéis. E por isso é que é precisa a estocada final, quando o matador entra em cena.
Hoje Tacuara não foi o matador. Não foi Ordoñez ou Dominguín. E isso é triste, porque devemos acabar o que começamos, porque não devemos ficar abaixo do que podemos.
No fim do jogo, o contentamento no rosto dos adversários mostrava bem quem é que hoje ganhou pontos.
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quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Encontro imediato de Primeiro Grau
Sub-título:
O dia brilhava lindo e fresco. Os miúdos radiantes para a escola. Rápidos como se fosse o primeiro dia. Depois é que ele percebeu, amanhã é feriado. Ainda.
A Vespa óptima e despachada. A Infante Santo pedia para ser subida. E foi.
A meio da Avenida, começa a sentir a pressão de um mercedão a morder-lhe os calcanhares.
A Vespa ia na faixa da direita e não se intimida. Nunca o faz. Acredita no Orwell. Somos todos iguais. É um bocado atrevida. Tem a mania, dizem.
Sobe a Avenida, à direita, e mantém-se à direita.
Mas aquele mercedão começa a empurrá-la para a berma. Quer mesmo que ela encoste. Que saia do caminho. Talvez mais. Está furioso e destila acelerador.
Mas que merda é esta ? A Vespa não perde para um mercedão !
Mas o mercedão é grande, arrogante e cinzento, e quer ver se a Vespa se aguenta sem ir ao chão.
Não dá, pensa. Desiste do primeiro braço de ferro. Hoje não é dia para o hospital. A Vespa não quer arranhar-se nem aleijar o dono, e chega-se mesmo para lá.
Mas a Vespa é teimosa e não gosta de mercedões que a querem atirar para a berma.
Persegue o mercedão. Quer tirar satisfações. Quer dizer-lhe duas.
É quando ouve um segundo carro, logo atrás, que acelera e pressiona, e tem uma sirene, que se liga e já está feita louca perseguindo agora a Vespa. Vem à paisana e assustou-se. Porque a Vespa persegue o mercedão que a quis atirar para o chão.
A Vespa já percebeu. Os detrás são uns vigias ou uns macacos. Mas quem é que vai lá na frente ? Quem é o dono do mercedão ?
A Vespa continua. Está insaciável de curiosidade. Esta não me tiram. Quer explicações. Quem é o desgraçado que a quis derrubar ? Quem é que não quer saber de quem vai à direita ? Quem é que ultrapassa pela direita e quase mata para chegar primeiro (ao semáforo...) ?
E os vigias na peugada. Que perdem para o transito.
A Vespa furou e passou, aproxima-se agora do cinzento mercedão, olha para dentro e vê: no lugar do morto vai o Pedro ! O Passos Coelho, sim.
Este, esfíngico, olha em frente, imperturbável, sabe lá quem é a Vespa. E não pede desculpa. Claro.
A Vespa tem mesmo de se segurar. Tem vontade própria e queria dar um pontapé àquele malvado mercedão. Mas depois controla-se. Afinal, não se bate em meninos. E tolos.
Já não há raiva. Sorriu e seguiu o seu caminho. Não foi identificada. Julga.
* Ok, não foi um encontro. Foi uma razia. Um chega-para-lá.
"O meu encontro com o Primeiro-Ministro" *
O dia brilhava lindo e fresco. Os miúdos radiantes para a escola. Rápidos como se fosse o primeiro dia. Depois é que ele percebeu, amanhã é feriado. Ainda.
A Vespa óptima e despachada. A Infante Santo pedia para ser subida. E foi.
A meio da Avenida, começa a sentir a pressão de um mercedão a morder-lhe os calcanhares.
A Vespa ia na faixa da direita e não se intimida. Nunca o faz. Acredita no Orwell. Somos todos iguais. É um bocado atrevida. Tem a mania, dizem.
Sobe a Avenida, à direita, e mantém-se à direita.
Mas aquele mercedão começa a empurrá-la para a berma. Quer mesmo que ela encoste. Que saia do caminho. Talvez mais. Está furioso e destila acelerador.
Mas que merda é esta ? A Vespa não perde para um mercedão !
Mas o mercedão é grande, arrogante e cinzento, e quer ver se a Vespa se aguenta sem ir ao chão.
Não dá, pensa. Desiste do primeiro braço de ferro. Hoje não é dia para o hospital. A Vespa não quer arranhar-se nem aleijar o dono, e chega-se mesmo para lá.
Mas a Vespa é teimosa e não gosta de mercedões que a querem atirar para a berma.
Persegue o mercedão. Quer tirar satisfações. Quer dizer-lhe duas.
É quando ouve um segundo carro, logo atrás, que acelera e pressiona, e tem uma sirene, que se liga e já está feita louca perseguindo agora a Vespa. Vem à paisana e assustou-se. Porque a Vespa persegue o mercedão que a quis atirar para o chão.
A Vespa já percebeu. Os detrás são uns vigias ou uns macacos. Mas quem é que vai lá na frente ? Quem é o dono do mercedão ?
A Vespa continua. Está insaciável de curiosidade. Esta não me tiram. Quer explicações. Quem é o desgraçado que a quis derrubar ? Quem é que não quer saber de quem vai à direita ? Quem é que ultrapassa pela direita e quase mata para chegar primeiro (ao semáforo...) ?
E os vigias na peugada. Que perdem para o transito.
A Vespa furou e passou, aproxima-se agora do cinzento mercedão, olha para dentro e vê: no lugar do morto vai o Pedro ! O Passos Coelho, sim.
Este, esfíngico, olha em frente, imperturbável, sabe lá quem é a Vespa. E não pede desculpa. Claro.
A Vespa tem mesmo de se segurar. Tem vontade própria e queria dar um pontapé àquele malvado mercedão. Mas depois controla-se. Afinal, não se bate em meninos. E tolos.
Já não há raiva. Sorriu e seguiu o seu caminho. Não foi identificada. Julga.
* Ok, não foi um encontro. Foi uma razia. Um chega-para-lá.
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terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Wind-Chill
a 125
Arre que um gajo não foi feito para viver com temperaturas que parecem dos pólos.
O termómetro da rua ao pé de casa dizia 5º C.
Vesti o blusão, apertei a máscara para a cara, enfiei o capacete e calcei as luvas.
Não nevou, mas enquanto não cheguei ao escritório, gelei com os três negativos. Isto diz quem sabe. Com medidores, cálculos e fórmulas.
Quando se anda na rua ao frio a temperatura do corpo baixa. De mota, pior.
E como há quem se dedique a pensar e a calcular tudo, porque a vida só tem graça com muitos numerozinhos, e continhas e com tudo explicadinho, inventaram o nome para o fenómeno: wind-chill que é o "efeito do arrefecimento do ar em movimento a diferentes temperaturas".
O termómetro de ao pé de casa dizia 5ºC e eu vim a uma velocidade média de 80 km/h.
E então já se explica tudo, e já se sabe tudo, e já se percebe tudo, e já podemos dizer "é assim, e está provado". Com continhas e fórmulas muito certinhas de cabecinhas que estudaram muito e sabem tudo porque fizeram contas e continhas. Que bom que é ter matemática.
E até pode ser, mas, Bullshit !, que rapei um frio dos demónios e então só me lembrava dos telhados de Lisboa, de ir ao fim da tarde percorrer a cidade, quando é Agosto ou Setembro e se vive no calor dos trópicos, e terminar os dias a beber um gin tónico e a fumar uns cigarros numa varanda ou na Graça, e o dia só acaba quando o dia acaba.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Fuck moody's, We got Meco !
Lisboa, sexta-feira
7h45 - O próprio a desencarcerar-se para fora da cama. Véspera a jogar ao futebol da meia-noite. Derrota por 2-1. Eliminados e para o ano há mais. Cama, só a das duas da manhã. Por isso, sexta, o próprio a desencarcerar-se para fora da cama.
8h00 - O pai toma um duche, prepara os pequenos-almoços e leva a miúda à escola que é o último dia. Bagunça geral e beijo. Molhadíssimo.
9h00 - O advogado chega ao escritório. Pensa nos problemas do dia. Arregaça as mangas, começa a bulir. Lembra-se de fazer um último articulado para entregar na audiência das 13h30m. Arguir uma nulidade. Discute-o com o colega dos cabelos brancos. Vou levar sopa. Tudo bem. A gente só recua para tomar balanço.
13h30 - O advogado (togado) entra no Tribunal. O cabelo não disfarça o stress antecipado. Audiência. Pega monumental com a Juíza. Ai, Senhora Juíza, semi-deus a quem Deus não perdoa ! Sentença condenatória. Vai ter recurso. Vai doer. E não vai ser bonito.
17h30 - O advogado (com a toga revoltada e amarfanhada) regressa ao escritório. Já não faz nada - só pensa no caso - mas despacha umas coisas.
19h00 - Freedom ! Mete a roupa num armário do escritório e veste uma t-shirt. Calça uns ténis e fica com os pés subitamente mais calmos. Arranca na Vespa e vai buscar a garota. Que lhe dá seca.
19h45 - Não pára. Filas logo à saída, mas a Vespa nunca pára. Alguns buzinam. Não sabe se para si, se uns com os outros. Buzina também como resposta. Vê risos naquelas cadeias com rodas. Outra vez o Fernão Ferro dos cães de loiça à beira da estrada, mas repara também nas casotas e nas lareiras. Tudo à beira da estrada a assistir ao desfile para o Meco.
19h55 - Chegam ao Meco. Primeiro à casinha. Aquela é a casinha. Do ano passado. Da Susaninha. Amiga boa. "Tomem a chave. O cão não morde." Nem assusta. Dorme refastelado à soleira da porta. Nem os sente entrar. Ou se sente já se está a cagar. Sacana na reforma ! A mochila chutada para o canto.
20h05 - Alfarim, uma miúda que implora: "Leva-me !", imensa gente no meio da Nacional. Vêm da praia. Do campismo. Alguns até trazem geleiras. Vão para o Cabeço da Flauta. Tudo louco. Enchem a berma, saem da berma, enchem a estrada, contornamos tudo, sempre com um olho 100 metros à frente para não chocar com ninguém, e outro feito radar para todo o lado como o camaleão. GNR's. E nós sempre a passar. A assobiar.
20h15 - Parque das motas, mesmo em frente à entrada. Ahhhh... Entrada. Desculpa, onde é que é o Palco EDP ? "O Senhor vai por ali..." Merda ! Devo estar mesmo velho. "Não me podes tratar por outra coisa ?" Um gajo chega aqui depois de um dia de morte e é logo ofendido. Devo estar mesmo velho. "O menino vai por ali..." Nada a fazer. Geração morangos, betosa ! Onde é que fica o "TU" no meio disto ?
Bem, sai da frente, que agora vai tocar o B Fachada.
7h45 - O próprio a desencarcerar-se para fora da cama. Véspera a jogar ao futebol da meia-noite. Derrota por 2-1. Eliminados e para o ano há mais. Cama, só a das duas da manhã. Por isso, sexta, o próprio a desencarcerar-se para fora da cama.
8h00 - O pai toma um duche, prepara os pequenos-almoços e leva a miúda à escola que é o último dia. Bagunça geral e beijo. Molhadíssimo.
9h00 - O advogado chega ao escritório. Pensa nos problemas do dia. Arregaça as mangas, começa a bulir. Lembra-se de fazer um último articulado para entregar na audiência das 13h30m. Arguir uma nulidade. Discute-o com o colega dos cabelos brancos. Vou levar sopa. Tudo bem. A gente só recua para tomar balanço.
13h30 - O advogado (togado) entra no Tribunal. O cabelo não disfarça o stress antecipado. Audiência. Pega monumental com a Juíza. Ai, Senhora Juíza, semi-deus a quem Deus não perdoa ! Sentença condenatória. Vai ter recurso. Vai doer. E não vai ser bonito.
17h30 - O advogado (com a toga revoltada e amarfanhada) regressa ao escritório. Já não faz nada - só pensa no caso - mas despacha umas coisas.
19h00 - Freedom ! Mete a roupa num armário do escritório e veste uma t-shirt. Calça uns ténis e fica com os pés subitamente mais calmos. Arranca na Vespa e vai buscar a garota. Que lhe dá seca.
19h45 - Não pára. Filas logo à saída, mas a Vespa nunca pára. Alguns buzinam. Não sabe se para si, se uns com os outros. Buzina também como resposta. Vê risos naquelas cadeias com rodas. Outra vez o Fernão Ferro dos cães de loiça à beira da estrada, mas repara também nas casotas e nas lareiras. Tudo à beira da estrada a assistir ao desfile para o Meco.
19h55 - Chegam ao Meco. Primeiro à casinha. Aquela é a casinha. Do ano passado. Da Susaninha. Amiga boa. "Tomem a chave. O cão não morde." Nem assusta. Dorme refastelado à soleira da porta. Nem os sente entrar. Ou se sente já se está a cagar. Sacana na reforma ! A mochila chutada para o canto.
20h05 - Alfarim, uma miúda que implora: "Leva-me !", imensa gente no meio da Nacional. Vêm da praia. Do campismo. Alguns até trazem geleiras. Vão para o Cabeço da Flauta. Tudo louco. Enchem a berma, saem da berma, enchem a estrada, contornamos tudo, sempre com um olho 100 metros à frente para não chocar com ninguém, e outro feito radar para todo o lado como o camaleão. GNR's. E nós sempre a passar. A assobiar.
20h15 - Parque das motas, mesmo em frente à entrada. Ahhhh... Entrada. Desculpa, onde é que é o Palco EDP ? "O Senhor vai por ali..." Merda ! Devo estar mesmo velho. "Não me podes tratar por outra coisa ?" Um gajo chega aqui depois de um dia de morte e é logo ofendido. Devo estar mesmo velho. "O menino vai por ali..." Nada a fazer. Geração morangos, betosa ! Onde é que fica o "TU" no meio disto ?
Bem, sai da frente, que agora vai tocar o B Fachada.
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quarta-feira, 22 de junho de 2011
Portugal é o Brasil
... excepto no ouro que sempre lhes brotou das minas e no Inverno que é só nosso.
O Advogado deixa Cascais. Audiência no Tribunal Criminal. Tira a gravata, guarda o blazer e arregaça as mangas. Monta a Vespa, apanha a Marginal que o dia está lindo e o sol já espelha no mar. Ah, livre ! Quem é que respira uma brisa como esta ?
E Portugal é o Brasil.
As praias da linha a deitar gente por fora. Cheias dos desempregados que vivem do rendimento mínimo à espera dos que vão chegar. Dos miúdos que já estão de férias (já estão de férias ?) a jogar bola no areal ou a dar uso às redes de volley de praia. As miúdas destapadas, quase mulatinhas, redondinhas, curvadinhas. Mas um bocado envergonhadinhas que isto ainda não é o Brasil.
As praias da linha parecem Ipanema, Copacabana ou a Barra da Tijuca, mas um nada envergonhadinhas. Barezinhos com velhos bronzeados e solteirões tatuados e de braços musculados, encostados ao balcão a beber um "chope" que cá é imperial.
Tipos de bicicleta, outros no jogging e miúdas também, de rabo-cavalo, óculos escuros e corpos atléticos com os peitos bem enérgicos e espetados para a frente, a antever os biquinhos.
Buzinam de trás que já vai devagar.
Portugal é o Brasil, e enquanto der, dá. Quando não der mais, samba. Dança.
O que chateia é que temos um Inverno. E pode dar Grécia.
Mas agora é verão, e enquanto der, dá.
O Advogado deixa Cascais. Audiência no Tribunal Criminal. Tira a gravata, guarda o blazer e arregaça as mangas. Monta a Vespa, apanha a Marginal que o dia está lindo e o sol já espelha no mar. Ah, livre ! Quem é que respira uma brisa como esta ?
E Portugal é o Brasil.
As praias da linha a deitar gente por fora. Cheias dos desempregados que vivem do rendimento mínimo à espera dos que vão chegar. Dos miúdos que já estão de férias (já estão de férias ?) a jogar bola no areal ou a dar uso às redes de volley de praia. As miúdas destapadas, quase mulatinhas, redondinhas, curvadinhas. Mas um bocado envergonhadinhas que isto ainda não é o Brasil.
As praias da linha parecem Ipanema, Copacabana ou a Barra da Tijuca, mas um nada envergonhadinhas. Barezinhos com velhos bronzeados e solteirões tatuados e de braços musculados, encostados ao balcão a beber um "chope" que cá é imperial.
Tipos de bicicleta, outros no jogging e miúdas também, de rabo-cavalo, óculos escuros e corpos atléticos com os peitos bem enérgicos e espetados para a frente, a antever os biquinhos.
Buzinam de trás que já vai devagar.
Portugal é o Brasil, e enquanto der, dá. Quando não der mais, samba. Dança.
O que chateia é que temos um Inverno. E pode dar Grécia.
Mas agora é verão, e enquanto der, dá.
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sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Mamma Roma
(rasputine)
A única forma de um coxo (meio louco) percorrer Roma é de Vespa. Não é que não haja outras maneiras, mas a única forma de um coxo (meio louco) percorrer Roma é de Vespa. Oiço o médico, você é louco ! neste estado ? a Roma ? de Vespa ? você é louco.
Não adio outra vez e como não dá para andar, alugo uma bengala a motor. A partir de uma certa idade um homem tem o dever de zelar pela sua integridade física, lá diz o médico outra vez. A Roma, de Vespa, neste estado ? você é louco.
Pois. E continuar provavelmente a dar chutos na bola, e um dia mandar-me de pára-quedas e pegar nos miúdos às costas e levá-los ao Pico, e rebentarem-me os joelhos, e estalarem as vértebras, só para eles verem aquele bocadinho de céu, aquele bocadinho de Deus.
Pois, Grande Chefe, vai ter que ser, mas esteja tranquilo que a cicatriz que fez com o canivete será bem tratada, não se preocupe e vou chegar melhor do que fui.
Pego na 125, muito mal tratada, amolgada, direcção torta e pesada, espelhos que não servem, travões que só muito apertados. Parece a minha perna. Mas não derrapa, nem quando caem umas gotas que ensaboam os paralelepípedos que se espalham nas ruas. Aqui não me querem mandar ao chão. Os carros. E ela aguenta-se bem. É responsável.
Percebo Roma ao lungotevere e daí entramos onde queremos. Café no "Rosati", café no "Greco", ou num qualquer do Campo dei Fiori. Ao lado do Cinema Farnese que exibe "O Segredo dos Seus Olhos". Só não entro porque deve estar dobrado. Café e um cigarro aceso no fósforo do restaurante do outro dia.
Trastevere, o bairro alto aqui é baixo, dizia o Mega Ferreira. É a quarta vez que venho e só agora a começo a conhecer. A bengala a motor é que faz isso tudo. Obrigado, garota.
Dói-me o negro da barriga da perna. Faz com que durma não sei como. Se estivesse aqui o tipo que me espetou a chuteira dizia-lhe duas. Aguenta, senão o médico é que tem razão. O buraco está menos buraco. Da perna, porque nas ruas são tantos que é um milagre não ir ao chão. Mas aqui não é Lisboa. Roma em Lisboa é que era, oiço dizer. E as romanas estão lindíssimas.
O dia cinzou e entro na livraria Fanucci. Há um livro do Pratt na prateleira. Tantos prats. Caro. Mas não vou pensar nisso quando estiver-lhe a ler as páginas e desenhos a preto e branco. E um dia dou-o aos meus filhos. Em Portugal nunca o editaram - "WWII, Storie di Guerra". Vem comigo italiano.
Os monumentos cá continuam, mas já não me interessa nenhum, embora lhes sentisse a falta a todos. Só me apetece as ruas. Sujas. E os Cafés. E almoçar, outras vezes jantar. Conversar. Cláudio, o taxista. Da Lazio. Michele, o recepcionista. Cristina, a cozinheira. Ver livros. E livrarias. De cinema. E trazer coisas para os putos. Está calor e ando de t-shirt na bengala a motor. Porque sabe bem. Não ter só a perna a chatear. E aqui não me querem mandar ao chão. Aqui não pode ser, que aqui ainda tenho o médico na cabeça.
E aqui nem buzinam. Só querem passar.
Roma é uma cidade decadente, diz-me o senhor de 50 anos que me ajuda a puxar a mala. Respondo que foi sempre assim. Por isso é que é eterna.
E Berlusconi, o caimão, ainda manda.
(rasputine)
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terça-feira, 5 de outubro de 2010
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
"Vacanze Romane"
Um filme um bocado ridiculo, do tipo conto de fadas, naquele estilo hollywoodesco romântico de quem vem conhecer a Europa antiga. Ela é uma princesa (e não é metafora) e ele jornalista. Paparazzo. Mas ele não sabe que ela é. Ela decide fugir dos claustros onde a submetiam. E vai aventurar-se. Encontram-se sem se saberem.
Ela, como toda a princesa, não tem dinheiro; e ele, como todo o paparazzo, persegue a princesa, que nao é ela. Não pode ser. Uma plebeia, sem cheta, que encontra perdida na cidade ? Sozinha ? Naaa...
Mas dá-lhe boleia que é bonita. Quase bela. Uma amorosa Audrey Hepburn agarrada (de olhos fechados de medo, vejam bem !) na cintura do bem falante Gregory Peck. Deslizando em redor do Coliseu.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Os telhados de Lisboa II
Não era sexta-feira, mas eram sete da tarde, a melhor hora para me pôr a milhas do escritório nesta altura do ano. Faz algum calor e a nova 125 está ansiosa.
Tanto tempo, pá! Oh, oh, já a formiga tem catarro. Ainda nem tem uma semana e já reclama. Gosto disso.
Ligo-a e fecho os olhos. Assim, sim. Mais calminha. Como um gato. A ronronar. Para onde é que vou, pergunto. Rua da Escola Politécnica, ó babaca. Ok, garota, mas sossega. Um bocado nervosa, não serás ? Despachada mas é. Toca a andar. Sim, mas pela Rosa Araújo e depois pela rua de S. Mamede. Tanto faz, quero é deixar este coito onde me deixaste à seca.
Rua da Escola Politécnica. Esta gosta de mim.
Lá vai a pretinha 125. A flanar. Mas voraz a menina.
Paro de repente no miradouro de São Pedro de Alcântara, ao Príncipe Real ou ao BA. É igual. Depende de onde se vem. Está cheio de gente. Já não vou pr'ó Chiado. É aqui que fico.
Subo o passeio e encosto a mota às que chegaram primeiro. Combinam bem neste sítio.
No centro do jardim instalou-se uma Big Band. Do Hot Clube, acho. Do prédio que ardeu e que entaiparam. É mesmo aqui que fico. Tocam um jazz simpático. Não compromete, não brilha, não inventa, mas ouve bem que é o que conta.
Reconheço os clássicos todos. Be-bop e swing. Temas do Duke (Ellington), Benny Goodman e Harry James. Esticam-se os trombones, sobem os clarinetes, levantam-se os trompetes. O piano continua sentado a mandar teclas.
Viro-me de costas, para o lado que dá para o Castelo e para a Sé. Estão lá. Descanso os cotovelos no gradeamento. O Zippo acende-me o cigarro que me saltou para os dedos.
Olha ! Os telhados desalinhados e desarrumados de Lisboa. Uns por cima dos outros. Parece que trepam, e eu acho sempre que falam comigo. Olha ! E eu olho.
O fumo está a incomodar um careca que veio pôr-se aqui. Estamos ao ar livre mas o chato do caraças nem sequer disfarça. Como não estou para aturar as suas mãozinhas a dar a dar, afasto-me e encontro o candeeiro perfeito.
Há um banco em frente onde se sentaram um marido e uma mulher. Devem ser franceses. 50 anos talvez, que o cabelo está quase todo branco e as rugas percebem-se bem. Dão-se o braço. Ele ampara uma Canon com tele-objectiva. Ela olha para mim encostado ao candeeiro e comenta qualquer coisa ao ouvido dele.
Passa agora um fresco que me atira o cabelo para a vista. E passam vestidos e muitas alças e alcinhas. Chispam mas não faíscam. Passam vestidos e sandálias que chispam. Mas não faíscam.
Só oiço francês. E pés a dançar.
'Take the A-Train'. Estes acordes acordam-me. Decido virar-me de novo para trás, onde já não está o chatinho dos bracinhos a dar a dar, para onde se acalmam os telhados de Lisboa, já todos encaixados.
Chegam dois amigos. Olá, pá.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Nova Ragazza. Já cá mora !
LX 125cc i.e
Ronrona como deve, anda que se farta, passa a Ponte e para o ano já vai ao Meco.
E é linda.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
MUDE
Sempre gostei de conhecer sítios curiosos. Sítios diferentes e inesperados, que nos põem pontos de interrogação na testa. O MUDE é um sítio assim. Ainda pequeno.
Não é um MoMA. Nunca. Longe disso. Nem pensar. A anos luz. Nem atreve. Mas é um sítio porreirinho. Fica na rua Augusta e não parece ser dali. Num antigo Banco. O capital a ceder lugar à arte e ao lazer. Curioso.
Os tectos continuam picados, com o que sobra dos materiais isolantes a pingar. Sem revestimento e com o betão à pele. Os pilares idem. Cimento. Adivinha que o edifício esteve para ser demolido e desistiu.
Resta o comprido balcão de mármore negro do velho BNU que dá uma volta inteira à sala. E a escadaria.
O espaço é fixe logo por isso e porque não se espera ver cadeiras pop, torradeiras, gira-discos, aspiradores e telefones dos anos 50 e 60 por entre aquele balcão cisudo onde antes se trocou dinheiro, letras e cheques.
Uma Vespa à esquerda. Toco-lhe. Não posso, oiço. Vestidos de noite de estilistas com nome de perfume francês.
Numa cortina projecta-se o histórico debate televisivo Nixon-Kennedy para as eleições de 1960.
Painéis de luz fluorescente branca. Chutam uma frase de um famoso qualquer do design.
Objectos futuristas de formas estranhas e cores concretas desenhados por Frank Gehry ou Corbusier.
De repente, ao canto, ouvem-se os Beach Boys a tocar "God Only Knows" e "Wouldn't it be Nice". Vou logo para lá. Vinis dos Beatles, dos Rolling Stones e do Bob Dylan no chão. Slides a bombarem um Lennon de cabelos e barba comprida em protesto. Enfiado na Bed Peace com Yoko Ono. Mick Jagger e uma mulher. Manifestações estudantis contra a guerra no Vietname. Martin Luther King. Pancada.
Uma espécie de cadeirão do Niemeyer.
Sete ou oito Vespas no meio. A mais antiga é de 1951. Uma com side-car. Todas de matrícula portuguesa. Vejo os conta-kilómetros.
Olho para uma estante controvertida. Dá para os dois lados. Naquele canto já toca o "Satisfaction" e o "Start Me Up". Acho graça às cadeiras longas em formato de onda ou de folha de papel amachucada e apetece-me deitar. Não se toca, oiço à entrada.
No andar de cima, uma espantosa colecção de scooters antigas lançadas para umas rampas. Lambrettas, Bernardettes, Zundaps, e até um modelo da Harley Davidson. Deve ter levantado cabelo. Anúncios e revistas da época.
À saída um momento sublime. A cena final do "Zabriskie Point". No Buick. Ela sempre linda. Dedos e olhos. Explosões, tudo pelo ar e os Pink Floyd.
"Turn your head feel the breeze."
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sábado, 3 de julho de 2010
Os telhados de Lisboa
(rasputine)
Há uma esplanada em Lisboa para onde eu gosto de vir nas sextas-feiras ao fim da tarde. Mais do que para qualquer outra. E são tantas.
Pego na mota, e vou. Desço a avenida até ao Rossio, meto-me pela rua do Ouro quase até ao fim e viro na rua da Madalena. Corto para a Sé e subo, subo, subo. Como se só houvesse um caminho possível. Fica na Graça.
Sento-me e peço um gin tónico ao empregado e um maço de Luckies. Ponha na conta. Fumo um.
Às sete e meia da tarde ainda não chegaram os grupos de rapazes e raparigas que enchem a noite e que depois descem para as discotecas. Os turistas a essa hora também estão normalmente a jantar.
Um velho pede-me dinheiro com os dedos. Balbucia qualquer coisa que não percebo. Dou-lhe uns trocos para a mão. Balbucia um pouco mais.
Olho para o busto de Sophia, bem junto ao varandim, que contempla alheia o horizonte do rio Tejo. De queixo levantado como quem respira. Só reparo na igreja quando os sinos dobram. Graves.
Corre uma leve brisa que abranda o calor que o sol ainda deita e que borra tudo de um dourado que não existe. Uma rapariga apanha o cabelo. Ao meu lado outra fala castelhano. Um dia hei-de dizer ao puto para trazer aqui a miúda que ele ame.
Pago e vou-me embora.
Lisboa não é Buenos Aires, nem Roma ou Paris, mas tem uma esplanada, a esplanada da Graça.
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