quinta-feira, 7 de março de 2013

"O Cemitério de Raparigas" - #2

(foto subtraída daqui)

«Não me lembro do que aconteceu e do que eu inventei. Mas um dia a minha alma foi contra a tua. Passámos dias inteiros agarrados. Não havia saída, nem dia, nem noite, nem eu, nem tu, nem vida lá fora. Era mais do que amor. O amor não é nada.
O amor desdiz-se. Desmente-se. Só não se desfaz porque não pode. O amor fica. Mas a vontade de amar azeda e a pressa de ser amado vai passando. O amor fica, para nos lembrar da nossa fraqueza, da nossa doçura, da nossa humanidade. Para nos fazer mais pequenos do que pensámos. Para nos proteger da esperança.
O amor não é nada e não passa porque não pode. Nada disso se passou connosco. Era mais do que amor. Numa hora de amor envelhecemos vinte anos. Era mais perigoso, mais bonito, mais triste que o amor. Era a nossa vida a passar.»

Miguel Esteves Cardoso, 1996

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