quinta-feira, 12 de junho de 2014

O lado lindo do futebol




(foto: andré, Casa Branca, Alentejo)


A História do Campeonato do Mundo está cheia de momentos de glória, exultação e euforia.
Continua a interessar-me mais o outro lado da rua, o lado dramático da bola. O lado trágico. A beleza eterna das vítimas do cruel.
As lágrimas-revolta de Eusébio porque a Inglaterra, que já jogava em casa, mudou o jogo de Liverpool para Londres para não ter que se mudar. 
A bola que vai à trave, não entra, mas o árbitro diz que sim na final de Wembley de 66 e a Inglaterra a ganhar o título à Alemanha. A vingança da Alemanha tirada a papel químico mas ao contrário no mundial de 2010. Lampard chuta, a bola está dentro e era empate, mas o árbitro vê tudo mal e diz que é não.
A máquina nova e incrível do futebol total, mais bonito, mais espectáculo, da "Laranja Mecânica" e que em duas finais consecutivas, perdeu ambas. Ou como Cruyff nunca ganhou a copa.
O Brasil de sonho, de Sócrates, Zico, Falcão, Junior, Toninho Cerezo, a ser eliminado em 82 pelos 3 golos do Paolo Rossi, sempre com mais um tiro cínico na culatra, ele que vinha de um escândalo de apostas ilegais. 
A incredulidade inglesa quando o árbitro apitou o golo com a mão do Deus Maradona em 86. As lágrimas amargas e tristes de toda a Argentina que escorriam na cara do mesmo Diego na final de 90, ele que até tinha "traído" Nápoles no seu San Paolo, vencendo a Itália de Baresi e Donadoni, lágrimas que agora não conseguia segurar apenas porque a Alemanha marcou um penalty que não existiu. Ou simplesmente porque perdeu.
O génio Roberto Baggio de 94 (nesse ano talvez o melhor do Mundo) que atira por cima da barra e falha o seu penalty na final, depois de ter transportado o país inteiro para essa final. 
O fenómeno Ronaldo que se deixou tragar pela ansiedade e já não jogou na final de 98. Zidane a fechar a carreira, expulso na final de 2006, por enfiar uma cabeçada no peito de Materazzi depois de ele ter dito duas coisas ou três da mãe ou da irmã de Zizou.
O momento mágico e louco de Luis Suaréz no último minuto do Uruguay - Gana de 2010, o avançado que faz de desesperado guarda-redes e sacrifica a pele para safar o remate que era golo certo. Chorou porque viu o vermelho e é penalty e isso é golo certo. O jogador do Gana chuta mas logo falha o castigo máximo e tudo, afinal, a valer a pena porque no desempate a penalties tudo muda e está nas meias-finais a equipa que tinha quase tudo perdido. Isto não é futebol, não é milagre. É Deus a rir-se da gente. E muito mau para o coração.
Em suma, o lado inumano ou horrivelmente humano do futebol.

Mas nunca, como no último campeonato do mundo realizado em solo brasileiro, houve maior e tão terrível fatalismo. 1950. No Maracanã jogavam Brasil e Uruguay. 200.000 almas nas bancadas. O resto de ouvido colado à rádio. Um país inteiro a respirar para ser campeão.
Começou o Brasil na frente do marcador, mas na segunda parte o Uruguay troca as voltas, mete dois golos e enterra aquele betão armado num silêncio sepulcral.
Os relatos da época contam que logo ali houve quem se despedisse da vida, lançando-se do alto das arquibancadas do maior estádio do Mundo.
Um trauma que só oito longos anos depois os brasileiros conseguiram ultrapassar, levados pelos pézinhos de génio de um menino chamado Pelé e pelos joelhos trocados de Mané Garrincha. Que poema !

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