sexta-feira, 16 de março de 2018

Marielle Franco


«Foi esta cidade que há um mês se viu ocupada por militares, a mando de um presidente da república não-eleito, alegadamente para fazer face ao crime. Depois do golpe na presidência, o golpe na cidade que é a cara do Brasil. O crime de Estado tem esta tradição de se justificar pelo crime. O presidente não-eleito, Michel Temer, assinou essa ocupação. O Rio de Janeiro é desde então uma cidade ocupada, num país ocupado. Todos os dias algo se soma ao horror. Chegam amigos de lá, ou mensagens de amigos, vejo as notícias, horror atrás de horror.
E ontem, 14 de Março, aconteceu uma morte violenta que imediatamente se tornou o espelho em que o Rio se viu, o Brasil se viu, os brasileiros pelo mundo se viram, e quem ama o Brasil, em geral. Toda a morte violenta é horrível, mas algumas, raras, são uma visão colectiva do horror. Foi isso que aconteceu esta quarta-feira à noite. A morte de Marielle Franco é um espelho voltado para a cara do Brasil. E para todos nós.

(...)


Faltava Marielle ir a votos. O que aconteceu na eleição de 2016. Ela esperava uns 6000 votos, disse. Teve 46.502, fazendo uma campanha como feminista, negra, gay, contra a violência policial. A quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro.

A 16 de Fevereiro deste ano, quando Temer assinou a ocupação militar do Rio, Marielle foi uma das vozes críticas.
A 28 de Fevereiro, foi nomeada relatora da Comissão da Câmara de Vereadores, criada para acompanhar a intervenção do exército.
A 10 de Março, denunciou o aumento da violência de Estado depois da ocupação e, de forma contundente, violência policial no bairro suburbano de Acari. “O que está acontecendo agora em Acari é um absurdo! E acontece desde sempre! O 41° batalhão da PM [Polícia Militar] é conhecido como Batalhão da morte. CHEGA de esculachar a população! CHEGA de matarem nossos jovens.”
A 13 de Março, anteontem, escreveu no Twitter: “Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”
Ontem foi executada.»

"Esta mulher, executada no Rio de Janeiro, ocupado por militares há um mês"
de Alexandra Lucas Coelho

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