domingo, 28 de outubro de 2018

Roma eterna


«Na primeira visita à Questura na Via Genova, junto à Via Nazionale, saímos de mãos vazias, porque chegámos às oito da manhã e já não havia senhas. No dia seguinte, estávamos na bicha antes das seis e conseguimos entrar, rodeados por uma maré humana heterogénea, no pátio do edifício. Ao fundo, havia um postigo a que tínhamos de ir, um a um, com o passaporte e o contrato de trabalho. Com centenas de pessoas à espera, o postigo abria e fechava a espaços: agora atende-se, agora não. Aproximei-me para verificar o que se passava lá dentro e vi um cavalheiro com uns 30 anos e uns enormes óculos de sol a folhear La Gazzetta dello Sport. Quando encontrava uma notícia interessante, ou se aproximava dele um colega de trabalho para fazer algum comentário importante sobre o joelho do Totti ou o esquema táctico da Roma, o cavalheiro dos óculos escuros fechava o postigo; passada a emergência retomava o contacto com os cidadãos. Vão pensar que estou a inventar isto. Quem me dera.
(…)
Certa tarde, a caminho do meu escritório no La Repubblica, vi um miúdo a arrombar a porta de um carro no parque da estação Termini. Dois carabinieri aproximaram-se por detrás, agarraram-no pelos braços e algemaram-lhe as mãos atrás das costas. Nada de especial, uma simples cena quotidiana. Mas eu sou daquelas pessoas que, só para não irem trabalhar, estão dispostas a entreter-se com qualquer coisa, e fiquei a ver.
Um dos agentes foi-se embora e o outro ficou com o detido e encaminhou-se para a esquadra da estação. Lá iam eles, quando tocou um telemóvel, o do carabinieri. Levou-o ao ouvido e disse "ah, sí, mamma", ao mesmo tempo que dirigia um gesto de desculpa ao ladrão de carros. O miúdo assentiu, compreensivo, e ficou à espera, olhando ora para o céu ora para os sapatos, enquanto o carabinieri ouvia da mãe o que, a julgar pela cara dele, deduzi ser um reprimenda.
A fim de uns minutos, desligou e pediu desculpa ao detido: 
- Scusami, lo sai come sonno le mamme…
- Lo so, lo so, signor carabinieri, per carità… - respondeu o preso, com um gesto de compreensão infinita.»

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