segunda-feira, 4 de janeiro de 2021
Com Borges e com Manguel
«Abro caminho por entre a multidão na calle Florida, entro na esplendorosa Galeria del Este, saio pelo outro lado, atravesso a calle Maipú e, apoiando-me contra a fachada de mármore vermelho que tem o número 994, primo o botão que indica o 6º B. Entro no átrio fresco do edifício e subo seis pisos pelas escadas. Toco à campainha e a empregada abre, mas, quase antes de ela poder convidar-me a entrar, Borges assoma por detrás de um pesado reposteiro, mantendo-se muito direito. Traz um fato cinzento abotoado, uma camisa branca e uma gravata levemente de lado, listada de amarelo. Cego antes de chegar à casa dos sessenta, move-se de maneira vacilante, até mesmo num espaço que conhece tão bem como este. Estende a mão direita e dá-me as boas-vindas com um aperto de mão distraído, desossado. Não há outras formalidades. Vira-me costas, sigo-o até à sala de estar e, uma vez chegados, ele senta-se erecto no divã voltado para a entrada. Sento-me na poltrona à sua direita e ele pergunta (mas as suas perguntas acabam por ser quase sempre retóricas): "Bom, e se lermos Kipling esta noite ?"»
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