Agora e aqui, a nossa finalidade é chegar à Primavera. Neste momento, nada mais nos preocupa. Por detrás desta meta, neste momento, não há outra meta. De manhã, quando, em fila na Praça da Chamada, esperamos durante um tempo interminável a hora de partir para o trabalho, e cada sopro de vento penetra por debaixo das nossas roupas e corre em arrepios violentos pelos nossos corpos sem defesa, e tudo em volta está cinzento, e nós próprios estamos cinzentos; de manhã, ainda antes de o dia chegar, todos observamos o céu do lado do Oriente para espiar os primeiros indícios da estação amena, e o nascer do Sol é todos os dias comentado: hoje foi um pouco mais cedo do que ontem; hoje está um pouco mais de calor do que ontem; dentro de dois meses, dentro de um mês, o frio dar-nos-á tréguas e teremos um inimigo a menos.
Hoje, pela primeira vez, o Sol nasceu vivo e nítido por cima do horizonte lamacento. É um sol polaco, frio, branco e longínquo , e não consegue aquecer para além da epiderme; mas, quando se libertou das últimas neblinas, um murmúrio percorreu a massa descorada que somos e, quando eu também senti a tepidez atarvés da roupa, compreendi como se pode adorar o Sol.»
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