«Sempre sonhei escrever um romance mau. Inicialmente, ainda rapazinho, a minha aspiração era ser escritor, escrever um grande romance. Com o tempo, a realidade foi-me demonstrando que o que escrevia acabava transformado em pequenos filmes, primeiro em super 8, mais tarde em longas-metragens que se estreavam nos cinemas e tinham sucesso. Percebi que aqueles textos não eram histórias literárias, mas guiões cinematográficos.
À primeira vista, parece que o autor de um bom guião é capaz de (e está destinado a) escrever um bom romance. Pensei que era uma questão de tempo, de amadurecimento, de aquisição de experiências, de possuir algum talento, de um olhar próprio e de mundo, mas, apesar de me julgar possuidor de tudo isso, intuí que estava a enganar-me. Escrever um bom guião não é fácil, exige tempo, horas de solidão (e astúcia narrativa) e ser-se um pouco cruel consigo próprio; mas nada disso faz com que um bom guião possa tornar-se um bom romance. Ninguém é tonto a ponto de pensar que, por escrever um bom guião, está destinado a escrever um bom romance, muito menos o grande romance. No entanto, é uma aspiração legítima e humana da qual temos de nos defender, e para isso é necessário não nos apaixonarmos pela nossa própria obra.»
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