Quando chegámos ao estádio do Porto, hora e meia antes do jogo, havia tanta gente na rua que o autocarro ficou parado. Uma pedra foi atirada contra uma das janelas que felizmente não se partiu. Os jogadores atiraram-se para o chão e fecharam as cortinas, mas toda a gente sabia que a equipa do Benfica ia lá dentro. Embora parecesse que havia cada vez mais gente, não houve outro remédio senão sair do autocarro, apanhar os nossos sacos e ir a pé até aos balneários. E assim fizemos, rodeados por adeptos do Porto aos gritos. Foi um episódio tenso e assustador.
Quando chegámos à cabina, estava fechada. Pedi aos seguranças que abrissem a porta, mas ignoraram-me por completo. Pinto da Costa, o presidente do Porto e o homem mais poderoso do futebol português, apareceu avisando que, segundo os regulamentos, só eram obrigados a abrir os balneários uma hora antes do jogo.
"Respeito-o muito Sr. Eriksson", disse-me, "mas guerra é guerra."
Quando abriram a cabina, descobrimos que tinha sido pulverizada com qualquer espécie de químico que não nos deixava respirar. Os nossos jogadores tiveram de se equipar nos corredores. Perguntei a um dirigente do Porto se, pelo menos, iríamos ter acesso ao relvado, mas as ordens de Costa eram para que a equipa visitante só subisse ao campo meia hora antes do apito inicial e não antes. No momento de pisar a relva, percebemos que estava tão encharcada que mal era possível fazer um passe, e as linhas tinham sido redesenhadas para fazer com que a superfície ficasse mais pequena. O nosso banco de suplentes foi colocado quase junto da grande área e fizeram questão de se assegurarem de que não se moveria.
Sem surpresa, o jogo tornou-se hostil e houve muitos cartões amarelos, mas nada de golos. Aos 80 minutos fiz entrar o ponta de lança César Brito e, um minuto depois, fez golo. Quatro minutos mais tarde fez o segundo. Pouco depois, o árbitro apitou e nós ganhámos 2-0. Enraivecidos, os adeptos do Porto iniciaram um tumulto que se prolongou pela noite dentro. Mas, no Benfica, Brito, um jogador periférico do qual nunca mais ouvi falar, tinha inscrito o seu nome nos livros da História. Nesse dia, ele foi rei. O Benfica conquistava o seu 29º título de campeão, o meu terceiro com o clube, e qualificara-se para a Taça dos Campeões.»
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