«Durante toda a minha vida musical, busquei a diversidade e a tolerância, explorei à exaustão as possibilidades de harmonizar contrastes, sempre me orgulhei de não ter preconceitos e de ser capaz de gostar de música de qualquer género, de qualquer lugar, de qualquer época. Mas a onda sertaneja era demais, não havia ali nada de que gostasse. Nem no Brasil em que estávamos vivendo.
(...)
Não era só a música: o Brasil estava insuportável, muitos amigos estavam debandando. Comecei a planejar minha retirada, a imaginar uma pequena gravadora na Europa ou nos Estados Unidos, para produzir, promover e distribuir internacionalmente a música brasileira de que eu gostava - e que, naquele momento, parecia mais admirada e querida no exterior do que no Brasil.
Acompanhei apaixonadamente o processo de impeachment de Collor e as descobertas diárias da rede de corrupção no seu governo. Quando, nos estertores finais, ele pediu ao povo que o apoiasse vestindo verde e amarelo no domingo, 16 de agosto, comprei a passagem. De manhã, todo de preto, saí para o calçadão de Ipanema e me integrei a um mar rumoroso de gente vestida de preto da cabeça aos pés, carregando bandeiras pretas e cartazes e gritando pela saída de Collor. Até os cachorros estavam de preto naquele dia luminoso. À noite embarquei para Nova York. Para começar tudo de novo.»
Sem comentários:
Enviar um comentário
Are You talkin' to Me ?