«Alguns dias depois da minha chegada, almocei com R., um amigo editor e livreiro de origem mexicana que está radicado no Chile há vários anos. Contou-me que sempre se gabara, junto dos seus conterrâneos, da vida tranquila que levava em Santiago. Já não se podia gabar dessa tranquilidade e, uns dias antes, enquanto conversava ao telefone com um amigo mexicano sobre o assunto, haveria de ouvir a seguinte frase: "Mudar de país na América Latina é como mudar de camarote no Titanic."
Quando saímos do restaurante, numa grande avenida vazia, com quatro faixas separadas por um passeio ajardinado (ou mal ajardinado), dois guanacos que se encontravam do outro lado começaram, sem qualquer motivo, a disparar contra nós, cegando-nos momentaneamente, quebrando a tépida monotonia de início de tarde e a lassidão pós-almoço. O ataque injustificado tomou-nos de surpresa, e hesitámos em que sentido seguir, sem saber se deveríamos voltar para trás ou continuar em frente. Com os olhos e a cara a arderem, optámos por correr na direcção oposta à que seguíamos, o que se revelou uma péssima escolha, pois era precisamente onde estavam virados os guanacos. Os carabineros inverteram o sentido da marcha para a faixa mais próxima de nós, num espaço em que a avenida permitia a manobra, e aproximaram-se, parando a escassos dois ou três metros - havia apenas, entre nós e eles, a distância que o passeio permitia -, e os jactos de gás atingiram-nos directamente na cara, queimando-a. Sem conseguirmos ver quase nada, corremos para trás dum quiosque e depois para uma rua perpendicular à avenida, por onde conseguimos cambalear. (...) Quando recuperámos um pouco da visão, os blindados tinham dado a volta ao quarteirão, numa perseguição evidente, e estavam agora à nossa frente, avançando para nós. Olhámos para todos os lados. Não havia outra rua, nem maneira de escapar.»
Quando saímos do restaurante, numa grande avenida vazia, com quatro faixas separadas por um passeio ajardinado (ou mal ajardinado), dois guanacos que se encontravam do outro lado começaram, sem qualquer motivo, a disparar contra nós, cegando-nos momentaneamente, quebrando a tépida monotonia de início de tarde e a lassidão pós-almoço. O ataque injustificado tomou-nos de surpresa, e hesitámos em que sentido seguir, sem saber se deveríamos voltar para trás ou continuar em frente. Com os olhos e a cara a arderem, optámos por correr na direcção oposta à que seguíamos, o que se revelou uma péssima escolha, pois era precisamente onde estavam virados os guanacos. Os carabineros inverteram o sentido da marcha para a faixa mais próxima de nós, num espaço em que a avenida permitia a manobra, e aproximaram-se, parando a escassos dois ou três metros - havia apenas, entre nós e eles, a distância que o passeio permitia -, e os jactos de gás atingiram-nos directamente na cara, queimando-a. Sem conseguirmos ver quase nada, corremos para trás dum quiosque e depois para uma rua perpendicular à avenida, por onde conseguimos cambalear. (...) Quando recuperámos um pouco da visão, os blindados tinham dado a volta ao quarteirão, numa perseguição evidente, e estavam agora à nossa frente, avançando para nós. Olhámos para todos os lados. Não havia outra rua, nem maneira de escapar.»
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