sexta-feira, 22 de junho de 2012

- Trouxeste cromos ?

- Pai, trouxeste cromos ?, inquire o puto, ainda mal pisei a entrada.
- Pai, cromos ?
- Calma, rapaz, deixa-me ao menos largar o casaco.
Regressar ao que já foi, mas só porque a caderneta veio de borla com "A Bola" de domingo e mais seis cromos. Mesmo se é a primeira vez que a colecção é do Europeu.
Nisto há que ser muito rigoroso. Cadernetas, só dos Mundiais, com os astros da Argentina e do Brasil. O resto, não.
Mas agora tenho um puto e o rigor vai inteirinho para as urtigas. O que é que um tipo vai fazer ?
- Pai, tens cromos ?, grita o miúdo ao telefone quando lhe pergunto onde é que anda.
Lá me dirijo à papelaria, não sempre à mesma, porque já saem muitos repetidos. É preciso dar folga às caixas.
Agora já não tenho só 20 paus que era a nota verde do Sacadura que o meu pai me punha nas mãos depois de muito chatear. A nota desgraçada que só dava para uma carteirinha. A mãe dava mais. As mães dão sempre mais.
Agora trago 10 de uma vez, que dão para 3 dias ou quase. E isto é educar.
- Cromos ?, oiço no intercomunicador quando toco à campainha. 
Quase treme o miúdo só de pensar que vai abrir o sagrado. Por isso acontece uns mal colados e um bocado tortos, mas eu deixo porque é a primeira caderneta dele e todos temos direito à asneira.
- Este é repetido !, diz o puto com satisfação. E eu de boca aberta por ele reconhecer um ucraniano que se chama Milevskiy.
- Este já temos. É o Nani !
- Dá cá para o molho que o pai vai tentar trocar com os amigos.
Começamos o tráfico.

Direitos dos cromos acima reproduzidos reservados à Editora Abril Morumbi, "Colecção do México '86": primeira caderneta pessoal.

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