sábado, 16 de junho de 2012

A Selecção: Round One


Entra em palco e não fala a ninguém. Um breve olhar e é só.
Não se embaraça com as palavras, nem perde tempo com elas. A sua língua é do piano, que começa a tocar assim que senta.
Dizer que Brad Mehldau é o herdeiro de um Bill Evans ou que tem dedos como o Keith Jarrett, mas é mais novo, é não dizer nada. É fazer um embrulho com papel emprestado.
Brad Mehldau debruça-se no piano, mergulha nele, mas não se afunda porque as teclas amparam-no sempre. E é aí que tudo acontece.
A franqueza com que passa das suas próprias composições (todas excepcionais) para   variações de clássicos do song-book americano como "When I fall'in love" e "My favourite things", ou adaptações de "Smells like teen spirit", "Bitter sweet simphony" e o mais que inevitável "Blackbird", dos monstros de Liverpool, faz-nos pensar que este é um jazz que não se troca. 
Sai do palco, ao fim de uma hora e meia e três encores, e não diz uma palavra. Agradece, sempre com a cabeça, mas não se embaraça com as palavras, nem lhes sente a voz. A sua língua é o piano.


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