quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Encontro imediato de Primeiro Grau

Sub-título:

"O meu encontro com o Primeiro-Ministro" *

O dia brilhava lindo e fresco. Os miúdos radiantes para a escola. Rápidos como se fosse o primeiro dia. Depois é que ele percebeu, amanhã é feriado. Ainda.

A Vespa óptima e despachada. A Infante Santo pedia para ser subida. E foi.
A meio da Avenida, começa a sentir a pressão de um mercedão a morder-lhe os calcanhares.
A Vespa ia na faixa da direita e não se intimida. Nunca o faz. Acredita no Orwell. Somos todos iguais. É um bocado atrevida. Tem a mania, dizem.
Sobe a Avenida, à direita, e mantém-se à direita.
Mas aquele mercedão começa a empurrá-la para a berma. Quer mesmo que ela encoste. Que saia do caminho. Talvez mais. Está furioso e destila acelerador.
Mas que merda é esta ? A Vespa não perde para um mercedão !
Mas o mercedão é grande, arrogante e cinzento, e quer ver se a Vespa se aguenta sem ir ao chão.
Não dá, pensa. Desiste do primeiro braço de ferro. Hoje não é dia para o hospital. A Vespa não quer arranhar-se nem aleijar o dono, e chega-se mesmo para lá.
Mas a Vespa é teimosa e não gosta de mercedões que a querem atirar para a berma.
Persegue o mercedão. Quer tirar satisfações. Quer dizer-lhe duas.
É quando ouve um segundo carro, logo atrás, que acelera e pressiona, e tem uma sirene, que se liga e já está feita louca perseguindo agora a Vespa. Vem à paisana e assustou-se. Porque a Vespa persegue o mercedão que a quis atirar para o chão.
A Vespa já percebeu. Os detrás são uns vigias ou uns macacos. Mas quem é que vai lá na frente ? Quem é o dono do mercedão ?
A Vespa continua. Está insaciável de curiosidade. Esta não me tiram. Quer explicações. Quem é o desgraçado que a quis derrubar ? Quem é que não quer saber de quem vai à direita ? Quem é que ultrapassa pela direita e quase mata para chegar primeiro (ao semáforo...) ?
E os vigias na peugada. Que perdem para o transito.
A Vespa furou e passou, aproxima-se agora do cinzento mercedão, olha para dentro e vê: no lugar do morto vai o Pedro ! O Passos Coelho, sim.
Este, esfíngico, olha em frente, imperturbável, sabe lá quem é a Vespa. E não pede desculpa. Claro.

A Vespa tem mesmo de se segurar. Tem vontade própria e queria dar um pontapé àquele malvado mercedão. Mas depois controla-se. Afinal, não se bate em meninos. E tolos.
Já não há raiva. Sorriu e seguiu o seu caminho. Não foi identificada. Julga.


* Ok, não foi um encontro. Foi uma razia. Um chega-para-lá.

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