«O amor sai muito caro. Traz-nos despesas imprevisíveis e insuportáveis de alma, energia, paciência, humilhação e tempo, indecentemente roubado ao pouco que temos.
O amor complica a vida até ao ponto em que a vida se começa a parecer com o desejo de morrer já.
O amor nunca é a solução. O amor é sempre – no sentido verdadeiro de eternamente, sem o mais pequeno alívio de uma só que seja desejadíssima interrupção – o problema que só se resolve através da morte. Deixando de viver ou deixando de amar. Não há, como agora se diz, desnecessariamente, outra opção.
Amar é estar sujeito e deixar de ser sujeito. É depender de quem se ama. O amor está para a liberdade como um excesso de pandas está para a libertação de um único grilo.
O amor não é um substantivo. É um verbo: amar. É tragicamente que se consegue amar sem ajuda nenhuma de quem se ama – ou contra as mais poderosas objecções das pessoas mais nossas amigas. Nem se pode dizer que se consegue: é inevitável.
Amar é sujeitarmo-nos à vontade, tão deliciosa como escusada, de sermos amados e amadas por quem nos ama.
O amor é o primeiro passo que damos no caminho que nos ensina que somos secundários. Como é que a pessoa amada é mais forte ainda do que o nosso amor?
Não é. Amar é a bênção. Ser-se amada ou amado é apenas uma questão de sorte.
A sorte é imensa. Até por ser, sempre, maior do que nós: a sorte de amar.
O amor é a aflição de quem tem a sorte de sofrer sem razão. Amar, com ou sem alegria, resiste a tudo.»
in 'Público', 15.06.2016
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