segunda-feira, 18 de julho de 2016

The Endless River

Tive um amigo do 10º ao 12º ano com quem me pisgava das aulas para ir ouvir discos para a Baixa.
Apanhávamos o 28 ou o 32 e, em meia-hora, desembarcávamos no maravilhoso mundo da Valentim de Carvalho. Também percorríamos a BiMotor e, mais tarde, embora por pouco tempo, a Virgin, no edifício onde era o Éden. Mas a rainha do paraíso era a Valentim, do Rossio.
Dois andares, escadas rolantes, filas e filas com vários lados de CD's, com tudo no sítio e devidamente catalogado. No andar de cima era o ponto de escuta, com um sofá de pele e aparelho de estereofonia, e a livraria.
Era para lá que nos raspávamos quando já não aguentávamos a Secundária. E, aos poucos, lá fui começando a minha colecção de música. Lambendo primeiro todos os Pink Floyd, depois tudo o que havia de relevante dos anos 60: os Jimi Hendrix, os Zeppelin, os Doors, The Who, os Claptons todos (antes e depois dos Cream), os Jefferson Airplane, os Velvet, os Creedence e os CSN&Y, porque Beatles e Stones já eram do domínio caseiro. 
Com esse amigo passei horas intermináveis à procura de raridades, e a ensaiar na minha guitarra eléctrica os temas dos Floyd que aprendia de ouvido ou nos livros de pautas, também comprados na Valentim e que não se vendiam em mais lado nenhum. E ele, que só queria bateria, acompanhando, fazendo o ritmo com baquetas imaginárias ou com lápis e canetas. Às vezes uma pandeireta. Chegámos a prometer que iríamos alugar uma hora num estúdio, com outros dois marmanjos, para tocar umas coisas e ver o que dava.
Depois fui para a Faculdade e nunca mais o vi.
Encontrei-o anos e anos mais tarde, uma ou duas filas atrás de mim no concerto dos Portishead + Arcade Fire no Meco. Where else ?
Prometemos que nos voltaríamos a encontrar.
Combinámos que seria no lançamento do último disco dos Pink Floyd, para o comentar. Não aparecemos.

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