sexta-feira, 19 de julho de 2019

Com amor

Sempre os houve. Não é de agora.
Se há coisa irritante (vá, irritantezinha) é ver certa malta a apregoar cultura como se fosse um concurso de misses. Agora em twitts, nos faces e nos instas, ou em posts doutras galáx.... sociais. É aquela espécie de intelectualidade fascistazinha do eu-é-que-sei, cheios de uma moral e autoridade de que o bom percebem eles.
Então no que toca à música é todo um universo de arrogância. E quando, na maior parte dos casos, nunca pegaram num instrumento. Não há saco.
Quando chegam as bandas ao nosso país, é vê-los destilarem sobre os concertos nuns debochantes "Já não vou ver. Vi-o(s) no auge. Em 90 e troca o passo. Está(estão) decrépito(s). Tragam-lhe(s) um caixão. O quê ?? Tu ainda gastas o dinheiro nisso ??!? Poupavas.",  etc, etc. e tal, seguidos de afirmações petulantíssimas das suas bandas ou músicos do momento, que acabam de descobrir, e que até podem ser antigos (o que interessa é que têm o aval dos snobistas), com os inevitáveis "Eu agora oiço é isto. Evoluí.", rematando os outros de "atrasados". Como se fosse feio ou de mau tom ouvir João Gilberto, tocando as mesmas canções com as mesmas notas de sempre, ou Leonard Cohen, em rouca recta final, ou os U2 com Bono a falhar-lhe a voz, enfim, todos os rockers, ou não rockers, que já vieram e voltaram, e voltaram, e voltaram. E estão cá, e são de quem os ouve e vai ver.
Houve uma altura em que chamei a esta maltinha os "bonifácios".

O problema é que continuam a esquecer muita coisa:

1. que houve um tempo em que ninguém (ou quase ninguém) vinha a Portugal e, portanto, é óptimo tê-los cá !;
2. que os músicos são (muitas vezes) como o vinho e melhoram com o tempo, a prática e a experiência de vida;
3. que o fundamental é se ainda tocam, cantam e mexem bem, e se dão tudo (o que só quem os não descarta.... porque... sim, pode saber);
4. que não cabe a Suas Excelências os caudilhozinhos decretar o fim de vida de um artista;
5. e que é (pode ser) uma bênção escutá-los 15, 20, 30 ou mais anos depois da sua estreia.

O que ignoram no seu pedantismo opiniárquico (incapazes de apreciar a estrutura de um bom "vinho" velho ou uma travessa de acordes felizes) é que o que conta é se a noite foi boa, como me disse um dia o Jorge Palma.
Epá ! (com amor) cresçam !

Dublin 2018

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