O António adorava o mar, de Santa Cruz, quando o Sol descia e fechava os dias na linha que vive ao fundo e a vista não alcança.
Pegava então na Canon e disparava, repetindo, repetindo e repetindo o pôr-do-Sol que queria levar com ele, que queria ser dele. Ficava ali na varanda em frente à praia. A repeti-lo. Até se fechar.
O António adorava saber do Mundo, das emoções que escorriam na tinta dos jornais que percorriam a casa e das notícias que recortava e arquivava. E, depois, conversar, mas mais que isso ouvir, nos jantares de segunda-feira, que devagar iam trazendo mais gente à mesa. Sempre boa. De um vinho diferente, sempre novo, que com gosto deitava nos copos ou das delícias que tocavam os pratos e que vinham da cozinha da Avó Maria.
O meu Amigo António adorava dar aulas e transportar para a sala tudo o que sabia, entregando aos outros a colheita do que aprendia. E se íamos lá fora pedia as novidades das ciências da Economia em livros de língua diferente.
Como era generoso, se nos ouvia dizer que gostávamos disto ou daquilo, na vez a seguir lá nos trazia… disto ou daquilo.
Como era generoso, nunca soube incomodar, que a mãe ensinou-lhe como é lindo ser discreto, embora não passasse despercebido o toque apurado do humor que não evitava, e eu procurava devolver, ou entre a multidão de cabeças da Feira do Livro, onde a mais pequena procurava o seu tamanho de Homem grande.
Como era generoso com o meu Benfica, celebrei com ele os golos do Sporting até à final da Taça UEFA.
E amava a família !
Os netos, que lhe saltearam a casa e boa parte dos dias.
As filhas a quem mostrou a beleza que vivia nos livros, a força dos valores do trabalho e de ser digno. De um Cavalheiro com 71 anos verdadeiros.
Vai agora até ao mar, repetir-se e repetir-se ao pôr-do-Sol.
Fiquei a gostar muito do teu amigo António!
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