Rachaste outra vez a cabeça. A terceira e ainda não fizeste os 3.
A Luísa telefonou-me. Tinhas trepado para cima dos braços do sofá, faltaram-te os pés e malhaste nas arestas afiadas do suporte de revistas e jornais.
Saí do tribunal e fui-te buscar. A Avó Aida já tinha chegado para te dar as festas que a Luísa não conseguia. Peguei no meu índio encolhidinho que no S. Francisco Xavier te fecham a tola.
A Urgência Pediátrica é urgente e pediátrica, mas não recebe cabeças partidas. Deve ser tosses e dores de barriga.
"Tem de ir para a 'Cirurgia Geral - 'Pequena Cirurgia'."
Os braços cansam e as costas doem com o peso do teu miminho, mas vou logo para lá e não digo nadinha.
Espera, triagem, mais espera.
Lá chamam e a médica diz que és giraço. Também que vai doer e vai arder, mas tu nem ai!, nem ui!. Granda puto!
Ok. Já andas.
Mas depois outra vez pr'á Urgência Pediátrica, que outras médicas muito novinhas e queridas olham para isso como um traumatismo craneano do cacete. E então, depois daquilo que precisavas e quando era preciso era ir embora, exames para ver se estava tudo no sítio, se conseguias andar em biquinhos dos pés, se esticavas bem os braços, se tinhas os músculos em ordem, e os reflexos, se respondias a estímulos, etc, etc.
Nem para mim tinha sentido, quanto mais para ti que já estavas arranjado, e não lhes fazias a vontade, e elas não queriam dar alta.
Depois vieram com um cházinho para ver se o aguentavas ou se o chutavas para fora. Tá quieto ! Que não bebo essa zurrapa.
“O que ele precisa é de dormir a sesta e almoçar que o pai está cheio de fome”.
“O pai assume a alta?” Assumo sempre tudo.
Puto, vamos embora, que no meu tempo um gajo era só cosido e só interessava se não caíamos logo para o lado.
"Pai, posso contar-te um segredo ?" Diz.
"Obrigado."
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