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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

sábado, 14 de novembro de 2020

domingo, 8 de fevereiro de 2015

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Fight Club

Nota: o texto que segue foi publicado pela primeira vez no blogue encostado  do "Alcatrão & Penas". Recupero-o agora, adaptado, um ano depois, porque o(s) dia(s) justifica(m).

Houve fome.
Falando apenas do séc. XX, sucessivas convulsões políticas, sociais, económicas a que os nossos pais, avós e bisavós sobreviveram. Alturas de fome e verdadeira escassez. Duas guerras mundiais, recessões económicas, queda de impérios coloniais, independências. Choque petrolífero. Filas e senhas de racionamento. Fome. Para chegarmos à Liberdade.

Tyler Durden, o lendário Tyler do “Fight Club”, num dos melhores diálogos do filme, diz a determinada altura que eles (nós) pertencem(os) à Geração do Meio.
Queria ele dizer – julgo – que, como o irmão do meio, filho para quem em geral a família se está nas tintas, à nossa geração (dos 30) também ninguém liga muito, vá, nada.
Tyler depois desenvolvia um bocado a ideia: que éramos uma geração facilitada, que não havia grande rumo, que as dificuldades tinham ficado para os mais velhos e que a nossa geração estava basicamente entregue a si mesma porque ninguém queria saber de nós, nada iria acontecer de relevante nos nossos anos e não íamos ficar na História.

Há algo de assustadora e desesperadamente verdadeiro nisto.
Só não concordo com a conclusão: não ficarmos na História.
Tenho pensado muitas vezes neste tema. Tenho discutido muito, e o que digo, apesar da veemência do discurso, não tem feito muito eco. Aliás, que me recorde, só uma pessoa esteve comigo. Um raio, ou melhor, um corisco.

O problema é, em suma, este.
Nascemos e crescemos em democracia. Temos conforto, sofás e há o IKEA. Depois da revolução, depois do FMI, a CEE. E os anos 80 e 90, anos de progressiva ascensão económica e social. Chegámos ao mercado de trabalho em 2000. As nossas vidas foram bestialmente perfeitas, certinhas e previsíveis.
Quando podíamos ter ido fazer qualquer coisa, escolhemos uma carreira. Mark Renton, no final do Trainspotting dixit. E pronto. Uns melhor, outros menos bem, começámos a trabalhar e a ganhar (logo) relativamente bem. Não havia sobressaltos. A vida corria como planeado, temos 30 anos e não havia crises.

Claro que havia (ainda há) as ameaças do terrorismo, mas que também servem para financiar o produto armado. E o que é armado dá dinheiro. E se dá dinheiro a máquina funciona.
Dinheiro. Títulos comerciais. Bolsa. Mercados. Tudo seguro. Tudo vazio e feito de areia.
Como este clima de sagrada abastança não podia continuar por muito tempo, comecei a dizer aos meus amigos que algo vinha para aí. Tinha que vir. Falei em voltar à enxada. E que podíamos ser forçados a experimentar uma luta selvagem pela sobrevivência. Disseram que exagerava. Que era medo.
E, de repente, a crise do sub-prime de 2008 parecia dar-me razão.
Histeria total. Pânico. Madoff. Suicídios financeiros. Lehman Brothers. Casas entregues a troco de Zero. O dinheiro (afinal) não existia. Era tudo ficção. Era o fim. O fim das nossas sociedades, o fim do nosso estilo de vida. O fim.

Mas... amainou, e, como vivemos tão obcecados por uma ilusória segurança, as coisas começaram a voltar ao normal. Os Bancos a emprestarem o dinheiro que não têm, os Governos a usarem o dinheiro que não é deles, e todos a vivermos uma doce realidade virtual. Universo paralelo.
Amainou. Só amainou porque se adiou desenrascadamente até ao impossível. Porque agora voltámos ao expectável. Portugal recorre ao FEEF e ao FMI e nós que julgávamos estarem tão distante os anos 80, voltámos à mesma, como o aluno que chumba e nunca aprende. Ao menos a mudar de vida. A fazer outra coisa.

É aqui que me separo do Tyler: "Não ficaremos na História. Nada faremos digno de registo." Não acho.
Estamos enfiados num Fight Club tramado. Somos a Geração do Meio, sim, ou a Geração Só. Não temos ninguém ao lado, coisa que não se via nas gerações passadas, onde os pilares fundamentais da sociedade sustentavam tudo e garantiam estabilidade.
Hoje estamos por nossa conta. Os Governos mentem-nos. A Justiça quer ser política. Os Bancos vão à falência. As empresas governam-se. Os jornais dizem-nos o que outros querem dizer. Todos se servem e fazem batota. E a família (quase) inexiste. Muitos avós têm que continuar a trabalhar. Não há reformas. Os putos ficam entregues por aí. E um dia vão cobrar.

Esta é a nossa Revolução. Mudar isto. Este é o nosso Fight Club. E agora aguentar a borrasca que se adivinha. Eu estou cá.

sábado, 10 de abril de 2010

O Fight Club

Tyler Durden, o lendário Tyler do “Fight Club”, num dos melhores diálogos do filme, diz a determinada altura que eles (nós) pertencem(os) à Geração do Meio.
Queria ele dizer – julgo – que, como o irmão do meio, filho para quem em geral a família se está nas tintas, à nossa geração também ninguém liga muito.
Tyler depois desenvolvia um bocado a ideia: que éramos uma geração facilitada, que não havia grande rumo, que as dificuldades tinham ficado para os mais velhos e que a nossa geração estava basicamente entregue a si mesma porque ninguém queria saber de nós, nada iria acontecer de relevante nos nossos anos e não íamos ficar na História.
Há algo de assustadora e desesperadamente verdadeiro nisto.

Só não concordo com a conclusão: não ficarmos na História.
Tenho pensado muitas vezes neste tema. Tenho discutido muito, e o que digo, apesar da veemência do discurso, não tem feito muito eco. Aliás, que me recorde, só uma pessoa esteve comigo. Um raio, ou melhor, um corisco.
O problema é, em suma, este.
Nascemos e crescemos em democracia. Temos conforto, sofás e há o IKEA. Os anos 80 e 90 foram anos de progressiva ascensão económica e social. Chegámos ao mercado de trabalho em 2000. As nossas vidas foram bestialmente perfeitas, certinhas, previsíveis.
Quando podíamos ter ido fazer qualquer coisa, escolhemos uma carreira. Já o dizia Mark Renton, no final do Trainspotting. E pronto. Uns melhor, outros menos bem, começámos a trabalhar e a ganhar (logo) relativamente bem. Não há sobressaltos. A vida corre como planeado, temos 30 anos e não há crises.
Isto não quer dizer que não haja dificuldades. Há e (parece-me) mais do que algum dia. Não se pode é comparar estas com as de "antigamente".
Falando apenas do séc. XX, lembro as sucessivas convulsões políticas, sociais, económicas que os nossos pais, avós e bisavós atravessaram. Foram alturas de verdadeira escassez. Duas guerras mundiais, recessões económicas, queda de impérios coloniais, independências, para, numa palavra, chegar à Liberdade.
Connosco nada disso. Claro que há as ameaças do terrorismo, mas estas também servem para financiar o produto bélico. Dinheiro. Títulos comerciais. Bolsa. Mercados. Tudo seguro. Tudo, afinal, tão vazio e feito de areia.
Como achava que este clima de sagrada abastança não podia continuar por muito tempo, comecei a dizer aos meus amigos que algo viria para aí. Tinha que vir. Falei em voltar à enxada. E que podíamos ser forçados a experimentar uma luta selvagem pela sobrevivência. Disseram que exagerava. Que era medo.
E, de repente, a crise financeira de 2008 parecia dar-me razão. Histeria total. Pânico. O dinheiro (afinal) não existia. Era tudo ficção. Era o fim. O fim das nossas sociedades, o fim do nosso estilo de vida. O fim.

Mas... amainou, e, como vivemos tão obcecados por uma ilusória segurança, as coisas começaram a voltar ao normal. Os Bancos a emprestarem o dinheiro que não têm, os Governos a usarem o dinheiro que não é deles, e todos a vivermos uma doce realidade virtual. Universo paralelo.
É aqui que me separo do Tyler: "Não ficaremos na História. Nada faremos digno de registo." Não acho.
Estamos enfiados num Fight Club tramado. Somos a Geração do Meio, sim, ou a Geração Só. Não temos ninguém ao lado, coisa que não acontecia com as gerações passadas, onde havia pilares fundamentais da sociedade que garantiam estabilidade.
Hoje estamos por nossa conta. Os Governos mentem-nos. A Justiça quer ser política. Os Bancos vão à falência. As empresas governam-se. Os jornais dizem-nos o que outros querem dizer. Todos se servem e fazem batota. E a família (quase) inexiste. Muitos avós têm que continuar a trabalhar. Não há reformas. Os putos ficam entregues a quaisquer uns. E um dia vão cobrar.
Esta é a nossa Revolução. Mudar isto. Este é o nosso Fight Club.