Numa mesa de quatro estavam quatro. A bater uma cartada.
À volta destes quatro, daquela mesa de quatro, conto doze ou treze. À espera de vez.
"Foda-se!, caralho!... foda-se!, caralho!", e começam dois na mesa a discutir. Por causa de uma mão.
"Foda-se... caralho!"
Não acrescentam mais nada, como se pelo tom simples destas duas palavras tudo chegasse, como se argumentassem tudo o que era preciso.
Roda-bota-fora, sai um e entra outro para o lugar no carrossel de quatro.
Do outro lado da rua, um tipo conduz uma carrinha. Vai espetar o cimo do tejadilho no toldo de um boteco de má fama.
Todos deixam o jogo. Viram-se para o grande acontecimento da rua.
De dentro do boteco já explode quem parece dono. É pequeno mas vem com a força dos demónios.
"Filhooo da puuutaa! Anda cá que eu já te mostro!"
Quer arrancar o condutor da carrinha, que se agarra já ao volante como ao casco de um barco que naufragou.
"Fiiilhooo da puuutaaa!"
Gritos histéricos de mulher. Há uma que provoca: "Já foi de mal..."
"Anda ver o que fizeste, meu filho da puta. Mulher, chama a polícia!", continua o que parece dono. Espuma por todos os cantos e está com os dentes cerrados. As mãos parecem garras.
Arranca o homem para fora com violência, a quem enche de murros. Tem a barba mal feita e para aí uns cinquenta anos.
"Chamem a polícia! Chamem a polícia! Mulher, chama a polícia." Alguém os afasta. O homem da carrinha ajeita o colarinho.
Mas agora o dono do boteco já está com um varapau nas mãos. Estilhaça o vidro à carrinha. Aparece gente para o segurar.
"Já foi de mal...", repete outra vez a outra.
Num intervalo de chuva em frente ao Douro.
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