sábado, 5 de maio de 2012

Uma mulher no K2, a montanha selvagem


Em 2011, uma mulher e cinco homens organizaram uma expedição ao temível K2, a segunda montanha mais alta do mundo, dona de uns incríveis 8.611 metros de altitude. Gerlinde Kaltenbrunner, uma austríaca de 40 anos, tentava pela quarta vez atingir o cume desta montanha.
Se o conseguisse, seria a primeira mulher na história a escalar sem ajuda de oxigénio as 14 montanhas do mundo com uma altitude superior a 8.000 metros.
O marido Ralf ia com ela. Pretendiam atacar a raramente escalada aresta Norte, pelo lado chinês da montanha.
O marido, que já tinha conquistado o cume noutra expedição, resolve desistir e voltar para trás. Implora a Gerlinde que faça o mesmo. Com medo de não mais voltar a vê-la. Mas ela continua. Para além da neblina, do frio mortífero e de um esforço insano. 

A 'National Geographic' de Abril - serviço de excelência na literatura de montanha -, descreve com minúcia o sacrifício fascinante e inumano da escalada:

«(...)
À uma hora da manhã, Vassiliy, Maxut e Gerlinde fixaram os crampons às botas e, à luz das lanternas dos capacetes, começaram a escalar a vertente íngreme que ficava acima da tenda. Dariusz ainda estava dentro da tenda, preparando-se. Gerlinde abanou os braços, mas não conseguia sentir os dedos e estava a ter dificuldade em se desprender da corda. Maxut sentia os pés como dois blocos de gelo. Regressaram à tenda para tentarem aquecer-se e esperar pelo nascer do Sol. Gerlinde tremia de frio, descontroladamente.
Largaram de novo por volta das 7 horas da madrugada, com outra manhã de céu imaculado. Era agora ou nunca. No seu saco, Gerlinde trazia pilhas sobressalentes, luvas suplementares, papel higiénico, um segundo par de óculos de sol, ligaduras, gotas para cegueira da neve, cortisona e uma seringa. (...) Para si, uma minúscula caixinha de cobre com uma figura de Buda, que tencionava enterrar no cume. Dentro do fato, transportava o meio litro de água que conseguira derreter: se o pusesse na mochila, congelaria.
Foram abrindo caminho ladeira acima, na direcção de uma rampa de 130 metros de neve que descrevia um ângulo até à crista do cume. Ainda sofriam com o frio, mas às 11 horas da manhã já podiam ver que em breve ficariam ao sol. Às 3 da tarde atingiram a base da rampa. Durante os primeiros 20 metros, exultaram de alegria, ao descobrirem que só se afundavam na neve até às canelas. Porém, pouco depois, a neve dava-lhes pelo peito.»

texto de Chip Brown

1 comentário:

  1. É preciso ser-se corajoso, gostar, e sobretudo ter fascínio pela natureza e os perigos que ela esconde.

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