quarta-feira, 17 de setembro de 2014

de Bergen a Geiranger (4º dia)

Queríamos sair cedo e, embora tentando, não deu. Por causa da AVIS onde estivemos a negociar o Suzuki 4x4 que iríamos fazer à estrada a partir de agora. Acho que só realmente aqui começou a nossa viagem. É quando nos conduzimos que somos donos e nossos. Aspiro sempre a este tipo de inteira liberdade. 
Oslo e Bergen ficavam para trás. Duas cidades baixas. Duas cidades de porto.
Vamos trilhar os Fjords, as centenas de serpenteantes línguas do mar do Norte que rasgam a costa Oeste da Noruega e penetram em terra por entre picos e montanhas como se fossem rios a desaguar ao contrário, abrindo caminho para o interior e criando quase pequenas ilhas.
Objectivo: o Geirangerfjord, o ceptro e a Coroa.
Após os primeiros 111 kms na E39, em direcção a Forde, chegamos a Oppedal onde fazemos a primeira travessia de ferry, para Levik. Percebemos rapidamente que só de ferry se atravessam grande parte dos fjords. São tantas estas línguas de mar que se espetam para terra que não haveria tempo ou dinheiro para construir todas as pontes que seriam necessárias para passar para o outro lado. Esta parte do país está também repleta de túneis (alguns com 4 kms de comprimento), a forma mais rápida e recente de atravessar as montanhas. Mas quando não há túneis, nem ferrys, nem pontes, resta-nos pentear o sopé das montanhas,  bem na bordinha e rentinho ao mar, em slaloms gigantes que supomos intermináveis.
Ao fim de meia hora damos por nós inebriados dos"esses" e "esses" e parece que já só sabemos curvar. Também começamos a perceber porque os nórdicos apreciam tanto os ralis.
[foto: cristina]

Parámos, então, a meio caminho para comer umas sandes numa mesa de madeira à beira da estrada, que tinha um baloiço pendurado numa árvore mesmo ao lado e me fez lembrar dos miúdos.
Até que chegámos aos grandes maciços despenhados neste mar azul-esmeralda, que é assim por causa da água pura que escorre dos glaciares.
É isto que perseguimos. Foi por estes contrastes brutais que a natureza concedeu aos frios povos do Norte que percorremos a longa e ziguezagueante estrada nº 60 que liga Byrkjelo a Geiranger, e que subiu e desceu e subiu e perfurou e serpenteou.
E quando já batiam as 7 horas de caminho e já estava exausto da parte final de curvas e contra-curvas sucessivas enquanto subíamos a cadeia montanhosa de Dalsnibba, e onde vislumbrámos algumas das neves eternas, eis que chegamos à terra prometida: Sua Majestade o alto de Geiranger, senhor da única panorâmica capaz de curar-nos de tanta volta e guinada. Tão impressionantemente assombrosa que por pouco nos fazia perder o hotelzinho junto à estrada que tínhamos marcado e por onde passávamos já absortos no esplendor.
Compreendemos então o tamanho da recompensa para o viajante que suporta a tortura do (quase) inacessível.
Saímos do carro e olhámos à volta. Sentimos o ar fresco, enchemos os pulmões e deixámos que os olhos brilhassem agora.
Para desentorpecer fizemos depois uma hora de trekking até uma das cascatas da zona para concluir o processo curativo.
E para desentorpecer ainda, fomos jantar um cabritozinho numa espécie de cabana de madeira. Até desentorpecermos completamente no colchão do nosso quarto.


[foto: andré]

10 anos. Não parece que já são. Parecem ontem.

1 comentário:

  1. É óptimo poder ir à boleia deste viajante, captar com ele as pequenas coisas que fazem uma viagem e saborear o pormenor da descrição que, com as pinceladas do sugerido, do visto, do vivido antes, e o bom gosto da observação, nunca nos soa a estranho, nem a sobras.Vulpex-Huli.

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