quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Oslo (1º dia)


Chegámos a Oslo depois de um dia a aparvalhar os 139 euros a mais que cada um teve de pagar para resgatar a viagem. Só mesmo o Chiado conseguiu arejar.
Também não acreditava que recuperassem as mochilas e as fizessem chegar connosco no vôo do dia seguinte, mas conseguiram. Bem, era o mínimo. Perder o avião e depois ficar sem malas era castigo.
O coração vem feito dois. Uma parte ficou com os miúdos, lá onde eles ficaram. Fica sempre. Quem é pai vive nesse limbo eternamente.
No avião temos a companhia de Sílvia, uma chilena de 50 e tal anos, mulher do Sr. Dias, português de Elvas. Ela vem triste, mas conformada. Ele, emigrado há 40 anos, primeiro na Suécia, depois na Noruega, traz a revolta toda consigo que tantos anos fora do país não conseguem curar. Diz que até chorou no aeroporto. "Porque o maior problema de viver na Noruega é viver na Noruega." Tudo é mau, portanto, mas aguarda os últimos 4 anos para chegar à pré-reforma.... a preços nórdicos. Não hesito em pensar se vale a pena: tanta amargura e sabe lá ele se chega aos 62 !
Depois do discurso mais infeliz que ouvi de alguém antes de entrar no seu país, lá me pede desculpa. Digo-lhe que não faz mal. Que vamos como turistas e os turistas olham sempre de outra maneira. Que só não percebo porque é que não regressou a Portugal. Cala-se.
De maneira que lá chegamos finalmente a Oslo, depois da falsa partida da véspera e de ainda vir a remoer como é que isso pôde acontecer. O Sr. Dias aconselha-nos a ir para o centro de autocarro, porque é caro "mas sempre é metade do preço do comboio e só demora mais 20 minutos".
Atirámos as mochilas para o hotel e aterrámos no porto, depois de contornar a catedral e de uma boa volta pela parte nova da cidade. A princípio reajo mal a Oslo. O Benfica joga com o Sporting na Luz e, apesar de vir com a camisola vestida, tenho a cabeça longe. Olho e vejo semelhanças com Helsínquia ou Reikjavic. Fria, silenciosa, luterana. Sem cor. Na rua escuta-se apenas o chiar discreto dos eléctricos e um ou outro bebé que chora ignorando por instinto o civismo dos pais. A Cristina horroriza com a falta de barulho. Parece pronta a instalar um motim. 
Olho melhor e já vejo uma cidade que gosto, as fachadas dos edifícios arte nova, as varandas e janelas povoadas de flores ou girassóis, vemos a parte moderna, alguma arte na rua, o novo edifício da 'Opera House', e ruas traçadas a régua e esquadro, na lógica austera e matemática que os organiza.
A cerveja é cara, assim como tudo o resto. Amarga, mas boa, por causa da água. Provei-a num bar excelente da rua Storgata que a fabrica e de onde pinga para várias torneiras, 18 tipos diferentes de cerveja. As cadeiras não jogam umas com as outras e as raparigas são bonitas.
Já nos perguntaram várias vezes se somos italianos. Quando os esclareço revelam espanto e a admiração que se dedica normalmente aos aliens: "Ahh, Pôrtügaaal !"
Quando termina o dia olho outra vez para Oslo e no meu ranking pessoal da Escandinávia coloco-a, afinal, entre Estocolmo e Copenhaga. A cidade é gira.


(foto: andré)

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