quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Os Melhores Amigos - Parte I

Quando somos putos (com 10 e 12 anos), apressamo-nos a escolher os nossos melhores amigos. Normalmente no primeiro dia de aulas.
Olha-se bem à volta e vemos quem tem pinta de gajo fixe. Porque há condições.
Que joguem bem à bola, não sejam estúpidos nem tenham um penteado ridículo. Que alinhem se é preciso meter um professor na ordem e venham cá abaixo se tocamos à campainha. Que nos ajudem a fazer um caldinho (de ovos, farinha, cuspo e extracto de bomba de mau cheiro) para meter nos estofos do carro do porteiro do 6º andar que está sempre a chatear e é um pulha da pior espécie. Mas primeiro abre lá o vidro, caraças !  Acima de tudo, que nunca (e nunca é nunca) se "chibem" e estejam sempre prontos para enfiar um murro num gajo que se meta à toa connosco. Sem pensar ou perguntar o que foi. Mas que joguem bem à bola. Também ajuda se forem do Benfica.
Com eles trocámos cromos para as cadernetas do Mundial, jogámos Subutteo até doerem os dedos, aprendemos a andar de skate agarrados à traseira duma pickup de caixa aberta, fizemos corridas loucas de BMX (os mais afortunados tinham uma Peugeot cromada) e perdemos horas sem conta a teclar no Spectrum 48K, depois de metido o Load "" e de afinar bem o som para a merda do jogo entrar.
E fumámos os primeiros cigarros, em rodinha, a ver quem é que não deixava cair a cinza. Agora levas. 
Também trocávamos a Playboy (brasileira) que comprávamos à vez na 'Espanhola' e tinha umas páginas centrais desdobráveis nunca vistas. Um dia sentámo-nos todos a ver o "Império dos Sentidos" que alguém tinha conseguido sacar à pelintra no video-clube do bairro. Tudo com a boca aberta.
Depois, vieram as motas, os engates sem jeito e as tampas. Começámos a ouvir música a sério e a gravar cassetes. Nas festas íamos ter com uma miúda gira e aproveitávamos um slow para descer as mãos até abaixo. A seguir piscávamos o olho uns aos outros quando nos cruzávamos.
Metemo-nos no body-board e apanhávamos o cacilheiro para atravessar o rio com as pranchas debaixo do braço. Do outro lado, ainda havia o autocarro da Rodoviária para a praia do Waikiki. Hoje está quebra-coco.
E vimos a primeira amiga (a miúda mais linda do liceu) a fazer topless na Costa da Caparica (sonho do caraças !).  Como estava com o namorado, um pateta dois anos mais velho, acabámos a rodar a Vera entre todos naquela tarde em que as mamas da miúda apareceram, livres e desinibidas, a bater à porta do que tinha os pais divorciados. Partilha.
Eram os melhores amigos. O "Stand by Me", com o puto River Phoenix, termina a dizer que nunca mais se tem amigos assim. Cada um depois segue o seu caminho e passa a ser uma imagem embaciada do passado que não cresce. Que às vezes ainda encontramos, à noite, ou a celebrar um título do Benfica.

1 comentário:

  1. Bom, muito bom. Esse filme está seguramente nalgum dos meus tops de filmes, talvez na categoria tear jerker. Adorei.

    ResponderEliminar

Are You talkin' to Me ?