terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Monstros I

Roger Waters toca em Lisboa no mês que vem. Traz com ele a master piece da sua vida: "The Wall" ao vivo. Acho que não vou. Não quero. Porque Waters não é os Pink Floyd.
E os Pink Floyd (formação completa) nunca mais vão tocar juntos. Não depois da reconciliação no "Live 8" de há uns anos. Nunca depois de Richard Wright ter partido. Há coisas em que não se toca.

Os Pink Floyd são a maior banda de rock de todos os tempos. Porque a música não é só música. É muito mais do que isso. Tudo o que a transcende na celebração de luz e som que estes Monstros criaram à sua volta.
Em 1994, embora sem o problemático e genial Roger Waters, tive a sorte de assistir ao primeiro dos dois esgotadíssimos concertos que deram em Lisboa. Tinha comprado o bilhete seis meses antes. Guardei-o no cofre dos meus pais (que aquilo era sagrado), e no dia da eucaristia transportei-o no pé, dentro dos ténis porque não admitia ficar sem ele. 
O primeiro disco que ouvi foi The Final Cut (ed. 1983), um vinil dos meus pais que nem sequer é o melhor. Tinha para aí uns 10 anos e perdi a inocência. Foi ele que me encaminhou para a música a sério. Lembro-me de ficar aterrado com o seu cheiro a cinema, à pólvora de quando escutamos o bombardeamento no "The Post War Dream".
Um miúdo fica impressionado com certas coisas e, talvez por isso, com 15 anos comprei uma guitarra eléctrica em prestações e livros de pautas dos PF, para poder acompanhá-los enquanto tocavam na aparelhagem. Lamber depois tudo o que cá chegava sobre eles.
Que tinham começado em 1967, e logo se destacaram no panorama psicadélico de Londres pelo experimentalismo que brotava do cérebro atormentado de Syd Barrett. Faixas de música que ultrapassavam largamente os 10 minutos ou, em alguns casos, como o fabuloso "Echoes" (Meddle, ed. 1971), os 20 minutos. Ruídos exteriores recriados do real e inseridos nas canções, como o "Alan's Psychedelic Breakfast" (Atom Heart Mother, ed. 1970), palcos projectados pelos elementos da banda (todos arquitectos), concertos estudados ao pormenor carregados de laser e imagens esfuseantes, a guitarra virtuosa de David Guilmour, o piano lunático de Richard Wright, a percursão vigorosa de Nick Mason, as letras complexas do guitarra-baixo Roger Waters e as mais brilhantes capas de discos alguma vez desenhadas.
E depois, o Dark Side of the Moon (ed. 1973), o álbum que esteve mais tempo nas U.S. Charts (730 semanas), o Animals (ed. 1977), ensopado na arrepiante guitarra de Guilmour, e o Ummagumma (ed. 1969), parcialmente gravado ao vivo, a criação mais experimental dos Pink Floyd e que inclui a melhor versão que conheço de "Astronomy Domine".
Há coisas em que não se toca.

Roger Waters vem a Lisboa no mês que vem. Acho que não vou.  

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