Começámos a despedir-nos quando chegaste.
Não há
15 anos, mas no dia da tua volta e te fomos receber porque íamos assistir ao adeus das tuas botas e abanar de saudade quando deixasses de desequilibrar o campo com uma finta que só tu entendias ou com um passe para a baliza (se marcavas um penalty ou um livre directo).
Começámos a despedir-nos quando percebemos que a magia inesperada das tuas vírgulas e passes de letra era um alfabeto novo e que esse maravilhoso desprezo pela gramática era chutado para a eternidade.
Quando compreendemos que o prodigioso drible curto com o berlinde nos pés não eram nossos jamais e que a bicicleta ou o golo olímpico entravam para nunca mais.
Ou quando desapertavas esse ilógico troca-pés e a repentina canhota se libertava de uma ginga torta e oblíqua e que desmontava toda a defesa, para depois aninhar a menina no golo dos outros. E tudo isto fosse já uma lembrança velha nos relvados.
Começámos a despedir-nos de ti quando regressaste. Quando vimos que a curva-contra-curva onde viravas adversários se ia fechar e nos podíamos despenhar.
Quando nos falta o chão e somos o choro de um velho nas bancadas, porque o teu nome já não é do jogador, mas sim de um mito.
Mundial !