O disco é de 98. Comprei-o logo. 'The Masterplan', um conjunto de lados B's dos Oasis. Na altura do big-brit-bang.
O vídeo é de agora. Regressou (como regressam às vezes as coisas) com uma nova roupagem.
Sittin' on my own
Chewin' on a bone
A thousand million miles from home
When something hit me
Somewhere right between the eyes
Não é fácil constatarmos que já passaram 20 anos. Nunca é. Parece muito tempo e, de certa maneira, é. E não é fácil prepararmo-nos para rever uma banda ao vivo passado todo esse tempo. É arriscado. Perigoso. Em dia-não, podemos mesmo sofrer a desilusão de quando se cresce e se percebe que o mundo é afinal mais pequeno do que pensávamos. E tudo afinal não passou de um borrão (blur). Pode ser a ruína. Há 20 anos os Blur vinham tocar ao Coliseu de Lisboa. Coisa nova para estes lados. A sala transpirava
de cheia. Vinham na tournée de 'Great Escape', já o quarto álbum. Quatro rapazes que tinham inventado
a brit pop. No auge dos pólos Fred Perry e da guerrilha com os Oasis.
Damon Albarn haveria de terminar o concerto em cima de uma coluna de 3
metros de altura. No final talvez se tenha projectado. Depois viriam as canções para o Trainspotting.
Na altura, a vida estava apenas no princípio. Não havia facebook, nem telemóveis.
A faculdade ainda era só começo. O liceu ficava finalmente para trás e o que nos prendia à infância e que já
morria. The Great Escape éramos completamente.
Queríamos escalar todos os degraus e ir para o centro do universo. Instantaneamente. Onde a acção acontecia.
O mundo era novo e tínhamos uma vida inteira para ir e regressar. Sem rede e de pulmões escancarados,
com a paixão de quem respira de verdade.
A vida mudou e o mundo ficou estranho. Estamos mais
velhos, temos famílias, profissões, somos responsáveis e temos pessoas que dependem de nós. Já não viajamos com os amigos nos comboios da Europa. Lemos imensas coisas, ouvimos muito mais. Estamos diferentes.
Cometemos erros, não cumprimos todas as promessas, mas ainda tentamos fazer a diferença. Dia-a-dia. So we say.
Os Blur têm todos 40 anos, e nós quase. E por isso recebíamo-los com o desdém de quem já anda nisto há algum tempo. Copo de cerveja na mão, sentado e bem reclinado para trás, exibindo indiferença. Não pensem que vai ser fácil. Que é só chegar. Vão ter de provar tudo outra vez.
Primeira canção. Novo álbum. Nem me levantei. Quanto mais palmas.
Só que eles vinham em missão e, logo à segunda, "There's no other way",para mostrar que quem mandava ainda eram eles e não o céptico ali do canto.
A partir daí, rendição total: Beetlebum, Song 2, Coffee and Tv, Parklife, No Distance Left to Run, Tender, Girls and Boys, To the End, This is a Low, For Tomorrow, Out of Time, e terminar com o absolutismo de Universal. Digo de cor e não pela ordem certa. E sempre recusando ceder à previsibilidade de um Country House que podia estragar tudo.
Os Blur regressaram a Lisboa e afinal
continuaram. Mas melhores. Quem se desmoronou fomos nós.
É a isto mesmo que se chama crescer. Mudarmos sem perder.
Não é motivo de orgulho passar uma hora e quarenta e um minutos em frente ao computador a ver um documentário, mas, à falta de melhor, foi o que se arranjou.
Não sei o que o concerto dos Blur no Primavera Sound vai trazer. Não estou lá para ver e não há crónica nenhuma que bata os nossos ouvidos.
Não sei se vai pingar para o nostálgico ou se vão ser grandes e rebentar com o público.
O que sei é que os apanhei vai para 20 anos, num Coliseu de Lisboa, a transpirar de cheio, para se ouvir o quarto álbum destes quatro rapazes a quem chamavam brit, quando ainda não havia festivais ou telemóveis.
Na altura a vida começava ainda. Damon Albarn terminava o concerto em cima duma coluna de 3 metros de altura e de onde no final se terá projectado. A faculdade estava no princípio. Deixávamos o liceu para trás e o que nos prendia à infância e que já cansava. Queríamos subir todos os degraus e ir para o centro do mundo, que era mesmo novo e tínhamos todo o tempo para ele. Sem rede e de pulmões escancarados, com a paixão de quem respira de verdade.
Estamos mais velhos e o mundo está estranho. Não cumprimos todas as promessas mas fazemos por isto. Os Blur têm todos 40 anos, regressaram a Portugal e não sabem se vão continuar. Espero que a noite lhes corra bem.
Uma eucaristia pode interromper-se. Às vezes até deve. Neste caso se for para escorraçar gente que se confunde e julga que vem para o 'Lux' ou para um evento da 'Caras', ou sobretudo para calar quem só fala na merda do facebook e começa as frases com 'likes'. Também podem vedar a entrada a maiores de 14 e menores de 18 que vistam para sair à noite e não saibam quem foi o Dylan. De resto nada a apontar à banda de Thom Yorke. Irrepreensíveis.
Conta hoje a Rolling Stone que Damon Albarn pretende enterrar definitivamente os 'Blur' após o concerto de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres em Hyde Park, que terá lugar no verão deste ano. Parece-me bem. Não há nostalgia que resista quando acaba a tesão ou se perde o norte e, por exemplo, o baterista vira político. Mesmo que todos nos lembremos ainda da explosão que eles foram em 95/96 (onde os apanhei num Coliseu de Lx. à cunha), e a dinamite de sobra que tinham para brutalizarem a banda sonora do grande filme desse ano.
Os Oasis já não existem. Há algum tempo, aliás. Nunca existiram muito bem. Uma banda de membros intermitentes conforme os nervos do momento. Sobretudo dos irmãos Gallagher. Até chegar a vez de Noel chutar tudo para o canto. Liam pegou no que restava da banda e chamou-lhe os "Beady Eye". E anda para aí. Os Oasis (que assisti ao vivo) tocaram bem, fizeram três ou quatro discos porreiros e ajudaram ao boom da brit-pop dos anos '90, quando a música parecia não saber bem para onde ir. Os tablóides deliraram com estes rapazes, com os excessos, as zangas, e com os bares partidos. Também por causa dos derbys com os Blur.
A questão com a música é que, se ouvir bem, continua.