domingo, 24 de outubro de 2010

O melhor Exílio de sempre - parte II

Tarde boa. O Sol parece do S. Martinho.
Vamos para a avenida de Roma. O puto às cavalitas, a meter-se com todos e a empinar-se sempre que vê um autocarro, e a miúda aos saltinhos e de mão dada às nossas. Come um scone no Café do Tintim. Livros depois na Barata. O rapaz excitado com um em forma de carro de bombeiros. 
'Bora. Ficam em casa dos avós. É para isso que eles são. Para as dobras. Quase nove e meia.
Croquete, sandes de frango e imperial no Nova Ipanema. Mesmo ao lado do S. Jorge. Que agora só dá filmes quando é para o Indie, o Doc. ou outro festival.
Linda. A sala 1. Segundo balcão, palco e cadeiras acabadinhas de estofar.
Muitos índios, muita rasta. Miúdas freaks de óculos redondos e cabelo vermelho. Tipos que estudam... alguma coisa hão-de estudar.
Começa logo. A abrir com "Rocks Off". As razões do exílio em França. As finanças do grupo num caos. O Fisco à perna. Dívidas. Os Rolling Stones em Nellcote. Uns mais felizes que outros.
Keith. Tudo gira à volta de Keith. A música, a casa, o grupo, os convidados, os amigos, os penduras, a droga, o álcool. Keith é senhor. Do colchão. Também do improviso. Uma espécie de músico de jazz.
Mick casa com Bianca em San Tropez.
Charlie Watts queixa-se das curvas e das estradas. Bill Wyman lamenta a falta de Heinz Baked Beans. Vão, mas contrariados.
Em Nellcote instala-se uma multidão. É uma tribo. Há crianças pela casa, colchões espalhados, garrafas de Jack Daniels, e guitarras.
Arranjam uma cave. É lá que gravam. Uns num corredor, outros nuns quartos, e outros numas salas. O equipamento está espalhado. Os fios e os cabos percorrem a casa.
Keith levanta-se sempre às oito da manhã para estar com a mulher e o filho. À tarde começa a deitar acordes. À noite vão para a cave. O ruído é brutal. O processo criativo, lento e desorganizado. Mas juntam-se as peças em múltiplos takes. Ouvidos até à exaustão.
Mick (Jagger) diz que vale tudo para acabar uma letra, até escreverem várias frases soltas em papelinhos que tiram ao calhas para ver no que dá. E dá. "Loving Cup", "Let it Loose", "Sweet Virginia".
O tempo passa, o álbum esgota-os, há miúdos de oito anos que enrolam charros para os mais velhos e heroína em cima das mesas. Orgia monumental. "O Mick é o rock, e eu sou o roll", chuta Richards.
Setembro de '72. Já passaram 6 meses e recebem avisos de que a polícia os vai prender. Nostalgia de fim de festa. Vão para Los Angeles acabar o disco.
Robert Frank faz as fotografias para a capa. Tudo embrulhadinho e pronto para as Billboards.
É mais um disco dos Stones, mas este já fez história.

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