terça-feira, 23 de novembro de 2010

Léo Ferré


Quando era puto havia uma figura que me intrigava sempre que visitava a casa de um tio amigo em Carnaxide. Este meu tio tinha vivido algum tempo em Paris nos anos 60 ou 70 e tinha trazido um enorme poster que estava afixado na parede grande da sala.
Sempre que lá ia a casa enfrentava este poster, de que era impossível fugir. Era o poster de uma figura estranha. Um homem de cabelo branco comprido e encaracolado, com uma grande careca que mostrava a testa toda, e vestido de preto. Tinha um olhar perturbado. Parecia louco.
Eu pasmava em frente ao poster. Quem seria aquele homem ? Que faria ele, que teria feito ele, aquele louco sempre louco, para se pôr na sala de estar do meu tio tripeiro ? Que teria feito eu ? Acho que pensava que ele estava ali para me atormentar. Talvez para me lançar a mão se fizesse merda.
Quando se é puto estranhamos as pessoas que não são iguais às conhecidas e eu nunca tinha visto um homem de cabelo branco comprido e todo careca que não fosse louco ou vagabundo. E vestido de preto só podia ir para um enterro. O olhar amargo e que agora lhe digo sofrido compunham o ser louco daquela sala de estar.
Admirava-me ainda mais o meu tio ter um poster com a figura de um velho louco na sala de estar. E que estava ali para me atormentar. Isso era certo. 
Nunca tive coragem de lhe perguntar, ou sequer aos meus pais, quem era aquele senhor da sala de estar de Carnaxide. Acho que tinha medo que a resposta confirmasse aquilo que pensava.
Depois ele desapareceu.
Só muitos anos mais tarde, quando comecei a interessar-me por música, é que voltei a saber dele. Devo tê-lo visto na televisão. E então quis saber-lhe o nome.
Na altura ouvir uma voz que cantava perda, solidão, dor de quem ama e que o dizia em francês, era diferente de tudo o que tinha na prateleira. Era estranho, outra vez. 
Mas afinal o louco era um poeta. E compunha canções.

4 comentários:

  1. ? Por onde andam hoje os poetas-trovadores da belle langue como se chamava ao francês e que tiveram em Brel e Ferré os seus expoentes maiores, que hoje, passados alguns anos, os que os sabíamos de cor, chegamos a confundir, no seu grito sincero e despido,quase transparente da angústia existencial que cantavam?
    Eu sei que a poesia não se traduz e que os poetas se escapam por entre as malhas do poema, mas pus-me a seguir o vídeo e fui, procurar o texto original completo. Depois, tentei a tradução. E há uma parte no poema que me deu mesmo a volta à cabeça e à análise sintáctica do texto:
    "Avec le temps...
    Avec le temps, va, tout s'en va
    Mêm' les plus chouett's souv'nirs ça t'a un' de ces gueules
    A la Gal'rie j'Farfouille dans les rayons d'la mort
    Le samedi soir quand la tendresse s'en va tout' seule".

    Como o problema pode não ser apenas meu, aqui deixo o texto original bem como uma tentativa de tradução que me esforcei para que possa servir de algum auxílio ou de aguilhão a outro mais hábil,mesmo na tal parte mais encriptada:
    Vulpes/Húli

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  2. Avec Le Temps Léo Ferré

    Avec le temps



    Avec le temps...
    Avec le temps, va, tout s'en va
    On oublie le visage et l'on oublie la voix
    Le cœur quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller
    Chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien

    Avec le temps...
    Avec le temps, va, tout s'en va
    L'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie
    L'autre qu'on devinait au détour d'un regard
    Entre les mots, entre les lignes et sous le fard
    D'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit
    Avec le temps tout s'évanouit

    Avec le temps...
    Avec le temps, va, tout s'en va
    Mêm' les plus chouett's souv'nirs ça t'a un' de ces gueules
    A la Gal'rie j'Farfouille dans les rayons d'la mort
    Le samedi soir quand la tendresse s'en va tout' seule

    Avec le temps...
    Avec le temps, va, tout s'en va
    L'autre à qui l'on croyait, pour un rhume, pour un rien
    L'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux
    Pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous
    Devant quoi l'on s'trainait comme trainent les chiens
    Avec le temps, va, tout va bien

    Avec le temps...
    Avec le temps, va, tout s'en va
    On oublie les passions et l'on oublie les voix
    Qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens
    Ne rentre pas trop tard, surtout ne prend pas froid

    Avec le temps...
    Avec le temps, va, tout s'en va
    Et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu
    Et l'on se sent glacé dans un lit de hasard
    Et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard
    Et l'on se sent floué par les années perdues
    Alors vraiment
    Avec le temps on n'aime plus.

    Com o tempo Léo Ferré

    Com o tempo...
    Com o tempo, vai, tudo se vai,
    Esquece-se a face e a voz
    Se o coração deixar de bater, já não vale a pena ir
    Procurar noutro sítio, melhor é deixar correr e está bem

    Com o tempo...
    Com o tempo, vai, tudo se vai
    Aquele que se adorava e se procurava debaixo de chuva
    Aquele que reconhecíamos por um simples olhar
    Entre palavras, entre linhas, sob o disfarce
    De um belo juramento que vai ter a sua noite
    Com o tempo, tudo desaparece

    Com o tempo
    Com o tempo, vai, tudo se vai
    Até as memórias inesquecíveis, como a daquela goela
    Eu ao rebuscar na Galeria, entre os raios da morte
    Num sábado à noite, em que a ternura anda só

    Com o tempo…
    Com o tempo, vai, tudo se vai
    Aquele em que se acreditava numa constipação ou num nada,
    Aquele a quem demos ânimo e presentes
    Por quem teríamos vendido a alma a centavos
    Por quem andámos com trela, como cães
    Com o tempo, vai, tudo vai bem

    Com o tempo
    Com o tempo tudo, vai, tudo se vai
    Esquecemos as paixões e até as vozes
    Que diziam baixinho as palavras dos simples
    Não venhas muito tarde e não apanhes frio

    Com o tempo
    Com o tempo, vai, tudo se vai
    E sentimo-nos ficar tão brancos como um cavalo desfeito
    E sentimo-nos enregelar numa cama casual
    E talvez sozinhos,embora pacificados
    E sentimo-nos roubados pelos anos perdidos
    Então, realmente
    Com o tempo já não se ama.
    Vulpes/Húli

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  3. Avec Le Temps Léo Ferré

    Avec le temps



    Avec le temps...
    Avec le temps, va, tout s'en va
    On oublie le visage et l'on oublie la voix
    Le cœur quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller
    Chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien

    Avec le temps...
    Avec le temps, va, tout s'en va
    L'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie
    L'autre qu'on devinait au détour d'un regard
    Entre les mots, entre les lignes et sous le fard
    D'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit
    Avec le temps tout s'évanouit

    Avec le temps...
    Avec le temps, va, tout s'en va
    Mêm' les plus chouett's souv'nirs ça t'a un' de ces gueules
    A la Gal'rie j'Farfouille dans les rayons d'la mort
    Le samedi soir quand la tendresse s'en va tout' seule

    Avec le temps...
    Avec le temps, va, tout s'en va
    L'autre à qui l'on croyait, pour un rhume, pour un rien
    L'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux
    Pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous
    Devant quoi l'on s'trainait comme trainent les chiens
    Avec le temps, va, tout va bien

    Avec le temps...
    Avec le temps, va, tout s'en va
    On oublie les passions et l'on oublie les voix
    Qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens
    Ne rentre pas trop tard, surtout ne prend pas froid

    Avec le temps...
    Avec le temps, va, tout s'en va
    Et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu
    Et l'on se sent glacé dans un lit de hasard
    Et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard
    Et l'on se sent floué par les années perdues
    Alors vraiment
    Avec le temps on n'aime plus.

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  4. Com o tempo Léo Ferré

    Com o tempo...
    Com o tempo, vai, tudo se vai,
    Esquece-se a face e a voz
    Se o coração deixar de bater, já não vale a pena ir
    Procurar noutro sítio, melhor é deixar correr e está bem

    Com o tempo...
    Com o tempo, vai, tudo se vai
    Aquele que se adorava e se procurava debaixo de chuva
    Aquele que reconhecíamos por um simples olhar
    Entre palavras, entre linhas, sob o disfarce
    De um belo juramento que vai ter a sua noite
    Com o tempo, tudo desaparece

    Com o tempo
    Com o tempo, vai, tudo se vai
    Até as memórias inesquecíveis, como a daquela goela
    Eu ao rebuscar na Galeria, entre os raios da morte
    Num sábado à noite, em que a ternura anda só

    Com o tempo…
    Com o tempo, vai, tudo se vai
    Aquele em que se acreditava numa constipação ou num nada,
    Aquele a quem demos ânimo e presentes
    Por quem teríamos vendido a alma a centavos
    Por quem andámos com trela, como cães
    Com o tempo, vai, tudo vai bem

    Com o tempo
    Com o tempo tudo, vai, tudo se vai
    Esquecemos as paixões e até as vozes
    Que diziam baixinho as palavras dos simples
    Não venhas muito tarde e não apanhes frio

    Com o tempo
    Com o tempo, vai, tudo se vai
    E sentimo-nos ficar tão brancos como um cavalo desfeito
    E sentimo-nos enregelar numa cama casual
    E talvez sozinhos,embora pacificados
    E sentimo-nos roubados pelos anos perdidos
    Então, realmente
    Com o tempo já não se ama.
    (trad.Vulpes/Húli)

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