quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O Inverno do meu (nosso) Descontentamento


Líderes dos principais partidos portugueses em 1980

PS - Mário Soares
PPD - Francisco Sá Carneiro
PCP - Álvaro Cunhal
CDS - Diogo Freitas do Amaral

Líderes dos principais partidos portugueses em 2011

PS - José Sócrates
PSD - Pedro Passos Coelho
PCP - Jerónimo de Sousa
CDS/PP - Paulo Portas

Candidatos à PR em 1986

Mário Soares
Diogo Freitas do Amaral
Francisco Salgado Zenha
Maria de Lurdes Pintasilgo

Candidatos à PR em 2011

Aníbal Cavaco Silva
Manuel Alegre
Fernando Nobre
Francisco Lopes
Defensor de Moura
José Manuel Coelho


Estamos no fim da mais infeliz campanha para as presidenciais. Nunca (acho) uma campanha foi tão ausente e desmobilizadora como esta. Lembro-me de mim miúdo, às cavalitas do meu pai para ver Mário Soares num dos últimos comícios de 86 realizado no Rossio. Estava cheio de gente e eu não via nada.
Hoje as coisas mudaram. Para pior. Em 30 anos, as coisas mudaram. Mário Soares, no optimismo que o caracteriza de quem acredita sempre no futuro, diz que "os políticos são como os vinhos. Há épocas boas e épocas más."
Eu olho e procuro. Alguma coisa. Uma causa, um valor. Uma ideia.
Vejo  a infinita pobreza de um Candidato-Presidente, dono de 3001 esgares quando se lhe dirige uma pergunta, mas que insiste nas suas qualidades de homem honesto, sério e competente, que sabe como funcionam os mercados e que não é politico (há já 30 anos !), embora seja responsável pelo caso mais grave de sabotagem política de um governo de que há memória desde que somos livres, que teima que Portugal precisa de estabilidade e tranquilidade (só para assustar), e que deixa que envergonhem o país e não solte nem um ai ! na cadeira.
Vejo candidatos inflamados que se tomam por Kennedy ou Luther King (que citam abundantemente) dizerem "Dêem-me um tiro na cabeça, que só com um tiro é que não vou para Belém !", e que nos fazem questionar os malefícios da malária. Vejo também que a Madeira nos mandou alguém que (só pode) procura divertir. E outros candidatos que, verdadeiramente, não existem.
Não sei se Manuel Alegre será a pessoa certa para o cargo e como eu gostava que o fosse. É quem é. Também o conhecemos. Tem qualidades humanas e culturais. Tem a poesia do seu lado e (acredito) coragem para sacudir a modorra.
O que é dramático é a incapacidade total desta gente toda de conquistar um povo. De chamar ao debate. É a distância a que esta relação chegou, que já nem é divórcio. É de ignorar. É ausência.
Onde é que estão pessoas com a coragem, frontalidade e coerência de Sá Carneiro ? Com a estrutura intelectual de Freitas do Amaral ou o calibre moral de Salgado Zenha ? E o arrojo político de Pintasilgo ? 
Que todos se tenham candidatado e, mesmo com os sapos de Cunhal, Soares tenha vencido. Porque a minha vitória sai verdadeiramente engrandecida consoante os adversários que tenho.
Porque se via alguma coisa. Discutia-se muito. Ideias. Falava-se do concreto. A política valia a pena. Não se tratava de meros desfiles e "arruadas". E à noite, os amigos dos meus pais reuniam-se em nossa casa para assistir às eleições. Discutir mais um pouco. E viver com entusiasmo esses dias. De comunidade.
Hoje, é pena, mas duvido que Alegre consiga levar tudo para uma 2ª volta. De que Portugal e os portugueses precisavam. Para se voltar a acreditar. Que é possível.
No dia 1 de Maio de 2002, estava em Paris, entre a primeira e a segunda volta das eleições presidenciais francesas. Chirac tinha tido 19% e Le Pen uns perigosíssimos 17%. França temeu o pior. As pessoas organizaram-se, juntaram-se, mobilizaram-se. Fizeram manifestações gigantescas e gritavam coisas como "Il faut lui barrer la route!". Nesse 1º de Maio que vivi como se assistisse a um 25 de Abril, quase sufoquei entre a Pl. de la Republique e a Bastilha, que a gente cobria a rua. Mas foi lindo e um momento histórico. As pessoas unidas. Foi a França toda em peso contra o extremismo chamado Le Pen, e Chirac venceu.
Sinto que nos pode acontecer o mesmo. Só não sei quem ganhará então. Os extremistas alimentam-se do marasmo e da letargia de quem dá a Democracia por certa.

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