Mostrar mensagens com a etiqueta Chico. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Chico. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

"Bambino a Roma", de Chico Buarque


«Jet lag, adrenalina, insônia, e com um ou dois comprimidos de Zolpidem me esqueci de fechar as cortinas. Acordei com o sol na cara, tomei mais um sonífero e só me levanto no meio da tarde: 16h16. O celular no modo avião me serve somente de relógio de cabeceira, nem o alarme eu aciono para não esbarrar numa tecla errada. Não gostaria de  dar de cara com uma enfiada de mensagens por responder, nem de constatar que não me mandaram mensagem alguma. Peço ao room service uma focaccia com presunto de Parma, meia garrafa de Pinot Grigio e um maço de Chesterfield. Faço a barba, tomo banho e mando chamar um táxi que me leve à galeria da Piazza Colonna, onde me lembro de uma grande livraria chamada Hoepli, depois Rizzoli, depois Feltrinelli, em suma, um bom lugar para me perder um pouco. O taxista me toma por um turista incauto e se põe a circular pela cidade, o que a princípio não me desagrada. Contornamos a Piazza Navona, cruzamos o Pantheon, avistamos a coluna de Marco Aurélio mas vamos parar na beira do Tibre, onde atravessamos uma ponte, voltamos por outra, e da terceira vez que passamos pela Piazza di Spagna pago a corrida e agradeço. Da praça à igreja de Trinità dei Monti são cento e trinta e cinco degraus que me lembro de subir de três em três, apostando corrida com meus irmãos. Eis uma façanha que eu hoje não poderia repetir, não só por causa da artrose nos joelhos; a escadaria está cheia de jovens estudantes e mochileiros, deitados com a cabeça no colo uns dos outros, fumando maconha ou entornando latas de cerveja. Enfrento a escalada de viés com duas pausas a meio caminho e chego ofegante lá no alto. O coração disparando, porém, atribuo à visão do pôr de sol, refletido nos muros cor de ocre e no rosto dos adolescentes que me lembram a irmã que perdi.»
 


(foto: cris / novembro 2024)

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Chiquinho

«Amadeo, filho do quitandeiro, não tirava a boina da cabeça e tinha a pele de uma cor amarelo-esverdeada. Acho que não ia à escola, pois estava sempre por ali ajudando os pais na quitanda da esquina. Era mais ou menos do meu tamanho, e com ele eu havia aprendido as primeiras palavras em italiano: calcio, pallone, fuorigioco, và a fancullo, coisa de futebol. Domingo de manhã cedo, todos menos meu pai íamos à missa na igreja do bairro, onde eu tinha sempre novos pecados a confessar para um padre impaciente. Mamãe e os mais velhos fazíamos jejum para a comunhão, e nem bem voltávamos para o café, o Amadeo me chamava da rua: Braziliano ! Eu saía com a bola de couro e jogávamos gol a gol na rua o domingo inteiro, só interrompidos pelo seu pai, que o chamava a toda a hora para ajudar no serviço; a quitanda só fechava às segundas, e creio que era lá nos fundos que os quitandeiros moravam.»

sexta-feira, 2 de junho de 2023

segunda-feira, 24 de abril de 2023

quarta-feira, 27 de abril de 2022

Chicando


«Da calçada da praia do Leme vejo meu irmão partir em velocidade com a bola a saltitar dos calcanhares para as coxas, ou de um ombro para o outro, ou equilibrada na cabeça a modo de foca. Recentemente ele até inventou de correr com o corpo todo arqueado para trás, prendendo a pelota com o queixo contra o peito, mas esse lance o juiz impugnou em nome do fair play. No futebol de praia é pecado deixar cair a bola, que a areia fofa amortece, e cansei de ver meu irmão atravessar o campo de gol a gol com tais malabarismos. Só seria possível desarmá-lo apelando para faltas grosseiras, com trancos e empurrões, mas o tronco largo e as coxas musculosas asseguram sua estabilidade. Rasteiras e carrinhos tampouco funcionam, porque seus pés lépidos e voláteis. Resta o recurso de agarrar meu irmão pelos cabelos, que ele usa compridos para ficar meio argentino, conforme me disse um dia no ônibus. Ele me permite acompanhá-lo na ida e na volta da praia, contanto que eu não me identifique como irmão, pois acha ridículo ter parentes ou namoradas na torcida.»

sábado, 29 de janeiro de 2022

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

de volta ao.... Cotidiano



Chico e Caetano, os parceiros.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Parabéns, Seu Chico !



Os 70 anos do Sr. Chico Buarque mereciam crónica. Ou uma letra bem cantada.
Para mim chega a foto.

domingo, 4 de agosto de 2013

Sinal Fechado

- Olá! Como vai?
- Eu vou indo. E você, tudo bem?
- Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro… E
você?
- Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo… Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é, quanto tempo!
- Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios!
- Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
- Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
- Pra semana, prometo, talvez nos vejamos… Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é… Quanto tempo!
- Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
- Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
- Por favor, telefone! Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente…
- Pra semana…
- O sinal…
- Eu procuro você…
- Vai abrir, vai abrir…
- Eu prometo, não esqueço, não esqueço…
- Por favor, não esqueça, não esqueça…
- Adeus!
- Adeus!
- Adeus!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A única Monarquia que merece o título

Para estufar esse filó

Como eu sonhei

Se eu fosse o Rei
Para tirar efeito igual
Ao jogador
Qual
Compositor
Para aplicar uma firula exata
Que pintor
Para emplacar em que pinacoteca, nega
Pintura mais fundamental
Que um chute a gol
Com precisão
De flecha e folha seca


("O Futebol", Chico Buarque)
25/01/1942 - ...
Parabéns a Sua Majestade !

(e dentro de um carro, parados num sinal vermelho, os dois maiores amigos:
- Olha lá, pá, o Rei está ali no carro da frente !
- Pois está. 'Bora lá.
como putos, os trintões saem porta fora. Batem no vidro e esbracejam.
- Ó Rei, ó Rei, és o Maior !
De lá de dentro, Sua Majestade acena, e os trintões regressam a casa felizes da vida.)

domingo, 4 de dezembro de 2011

Sócrates 1954-2011


"Malandro quando morre
Vira samba"

Chico Buarque

terça-feira, 19 de julho de 2011

Fuck moody's. We are Meco.

Ao fim de dez minutos no Cabeço da Flauta, já temos a pele curtida pelo pó. Mas pó só há mesmo para quem não o consegue engolir e continuar de ouvidos abertos.
A primeira estação é no fazedor de canções: B Fachada.


Já tinha começado.
Fala do Sérgio Godinho e do Chico Buarque, dos amigos da Flor Caveira, de colecções do Vinicius, e de artes de prestidigitação.
P-R-E-S-T-I-D-I-G-I-T-A-Ç-Ã-O. Um gajo que canta uma palavra destas e não se engasga, tem de ser especial.
Com ar descontraído, B Fachada salta de olhos fechados da guitarra para as teclas. E das teclas para a guitarra.
A certa altura fica irritado com o som. Queixa-se para alguém da muralha de feed-back dos baixos. Alguém lhe diga que era tão forte que nos electrificou completamente o corpo quase nos empurrando para trás.
O concerto termina ao lusco-fusco.
A cerimónia está perto de acontecer. Religião.


Uma Lua já por cima de nós. Enorme, redonda e perfeita. A pedir para cantarem para ela. Para irem para o espaço com ela.
Inspiradíssimos, os Portishead mostram-nos porque tratam a música com pinças. Com o carinho reservado aos amantes. Porque entramos numa liturgia. Sagrada. Não é para estoirar de repente, nem ouvir-se a correr. Temos que a deixar penetrar. Começa quase sussurro. E quando nos entregamos ao som que produzem, é já tarde. Reféns para sempre da noite. Do lado negro da Lua.
No palco, Beth Gibbons, a feiticeira, desfia-se. Canta tudo o que tem de tocar. Em choro. Em prece. Despe-se, fímbria por fímbria. Despe-nos da alma. Arrancada com doçura. E isto é The Rip. Que não é só sublime. É monumental. De mergulhar para sempre na escuridão de um mar nunca estado e querer ir mais ao fundo. Até onde as profundezas nunca terminem. Mergulhar, mergulhar, mergulhar. A partir desse momento, já somos dela. Não queremos mais nada.


E quando nos julgávamos musicalmente dormentes. Noutra dimensão, impossíveis de tocar, quase prontos para pedir o fim, eis que aparecem 8 tipos malucos no mesmo palco onde 30 minutos antes imergíamos  para nunca mais.
Quando se falar do ano da crise em Portugal, do ano Troika, quando se falar do Meco '11, vai querer dizer-se: "Eu estive lá."
Acto 1: Portishead. 
Acto 2: Arcade Fire.
Os AF são um grupo janado de oito músicos. Multi-instrumentistas todos. Todos tocam mais que um instrumento durante o concerto, o que eu acho lindo. Tão depressa na guitarra, como no baixo, e depois na percursão, nos violinos ou num órgão. De tudo saltam e se decompõem em permanência, em estado de euforia musical.
Quando não era possível pedirem-nos mais nada, estes malucos rebentam com tudo.
Obrigado NATO. Cancelarem o concerto de Novembro foi melhor que a encomenda. A energia orgásmica do vulcão só aguentou o tempo necessário para explodir a rolha forçada.
E embora o joelho direito gritasse há tempo, temos de ir para o palco com eles.
Porque isto é o Meco. E podemos encontrar no meio da multidão escura de cem mil caras sem nome, um grande amigo que não víamos há mais de 15 anos. Quais são as probabilidades de isto acontecer?
"Uma para 30 mil.", diz o gajo. Não. Mais. Muito mais.

São 3h30m.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A música do Avô - XI


Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

domingo, 25 de abril de 2010