Todos têm que o reconhecer.
Mourinho é diferente. É diferente do portuguesinho habitual, aquele cabisbaixo e sorumbático do fado, da saudade, aquele que chega à final do Campeonato Europeu de Futebol, a jogar em casa, e... perde. Porque há sempre alguma coisa que tem de correr mal. É só esperar que ela venha. Como se o céu nos estivesse sempre para cair em cima da cabeça.
Não sou nada assim. Luta-se sempre. Até ao fim das nossas forças e, depois, logo se vê o que acontece.
Mourinho parece, mas também não é assim.
Mourinho é um homem frio que vive de resultados. É um bom princípio. Em competição interessam, sobretudo, os resultados. E, pelo que tem conseguido, merece respect.
Mas a vida não são só resultados. E no futebol há a paixão. Há Milito, Diego Milito, um puro-sangue argentino que marca golos como se fossem os últimos da sua vida, o oposto de Mourinho, o ponta-de-lança acabado, aquele que mais gosto de ver em campo, uma flecha, astuto, sempre de olho na bola e na baliza, à espera do erro do adversário ou pronto para combinar de primeira com um parceiro de equipa. Mas sempre para a frente. Feliz como um miúdo.
No outro dia ouvi o Miguel Guedes (dos Blind Zero) dizer, num programa de rádio, que Mourinho não é um homem feliz. Nunca será. Tinha eliminado o perfumado Barcelona com um chatíssimo Inter, porque Mourinho queria (mesmo) ser outra vez campeão europeu. Porque ele é que é, primeiro que os jogadores, primeiro que o clube, o campeão europeu, o especial. Todos se lembram de como partiu do FCP. Sem qualquer gratidão. Afinal tinha feito a parte dele. Para quê continuar ?
Para ele o futebol é um contrato. Um trabalho, sem emoção, findo o qual parte para outro. Colecciona clubes e títulos (caramba!) preenchendo um denso curriculum vitae para esfregar na cara de quem sempre duvidou dele próprio.
Mourinho vai continuar a coleccionar títulos e mais títulos. Agora no Real Madrid e logo com outro igual a ele em campo. Falo do Ronaldo, naturalmente.
Mas Mourinho nunca será feliz. Talvez naqueles breves minutos em que ganha mais um campeonato ou uma taça. Mas nunca será feliz, porque não tem paixão. E quando for bem velhinho vai entreter-se em casa, talvez sozinho, a ler as crónicas nos compêndios do futebol. Sobre ele. De como conquistou tudo. Mas sem mudar nada.
E, talvez por isso, porque é um homem frio e sem paixão, o Benfica foi o único clube que (verdadeiramente) o despediu. Porque acabado de ganhar ao Sporting por 3-0, achou logo que era hora de rever as condições do contrato. Mas no Benfica as coisas são diferentes. E ele sentiu-o. Amargamente.... até para nós.
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