Não dormi nada. Ontem à noite fui jogar futebol, perdemos 2-5 com uma equipa de mete-nojo, não marquei nenhum golo, levei pancada, da grossa, deitei-me tarde, o puto berrou a noite toda e, hoje, já vou no quarto café. Seguido.
... e deixei o carro ficar sem gasolina.
Para aguentar o dia, escuto Keith Jarrett. O Köln Concert. Gravado na Alemanha, em 1975, é uma master-piece. O seu disco mais vendido de sempre. Uma hora e quatro faixas de música extraordinária de um virtuoso do jazz contemporâneo. Que a Joana, uma amiga da Faculdade, me deu para ouvir num dia de estudo em casa dela, e a quem pedi logo para gravar numa cassete. E que estrondo ! quando percebi que já conhecia um dos excertos. Devo-lhe ter agradecido mil vezes.
Jarrett a solo, ao piano, marcando o ritmo com pancadas secas na madeira do instrumento e com ruídos vocais sofridos e arrepiantes. Completamente em transe.
Os seus concertos são verdadeiras maratonas de improvisação e suor. Tanto, que Jarrett nunca mais interpretou o que tocou em Colónia. Porque esse concerto foi improvisado.
Há um filme do Nanni Moretti, que revisito sempre que posso (sobretudo o capítulo In Vespa), que inclui na sua banda sonora a melhor passagem da primeira peça do disco. Moretti desloca-se pelas ruas de Roma, montado na sua vespa, até ao local onde Pier Paolo Pasolini foi assassinado. É um dos momentos mais belos do filme. De uma tristeza devastadora.
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