sábado, 15 de maio de 2010

"O Plagiador"

A Joni Mitchell, cantora folk e dona de uma das melhores vozes dos anos 60 e 70, disse recentemente em entrevista ao LA Times que o Bob Dylan "É um plagiador e o seu nome e voz são falsos. Tudo no Bob é uma decepção." Tradução da Blitz

Não é que a Joni não tenha feito uma data de covers do Bob Dylan ou que quando ouviu "Positively 4th Street" tenha dito que percebera "now you could make your songs literature." (em "Both Sides Now" de Brian Hinton).
Se calhar são meros arrufos.
Seja como for, acho que o velho Bob deve ter gostado de ler a entrevista ao LA Times.

Porque este homem sempre fez só aquilo que queria, com um gozo especial em contrariar as expectativas dos outros.

Com 20 anos, Bob Dylan deixa a casa dos pais, pega numa guitarra acústica e vai conhecer o misterioso Woody Guthrie. Começou a tocar músicas. Blues, mas folk blues. Foi para Nova Iorque, tocou nos pubs de Greenwich Village e conheceu poetas, Ginsberg, e muitos embriagados e toxicómanos.
Quando de repente lhe disseram que ele era a voz de uma geração, que seria o líder de uma revolução, Dylan, num concerto memorável no Royal Albert Hall em 1966, e para espanto geral, pega numa guitarra eléctrica e simplesmente rebenta com tudo. É a melhor parte do concerto, ainda que os puristas da altura ficassem de cabelos em pé com a súbita mudança de estilo de Dylan.
Aliás, no final do concerto, dá-se um episódio que vale a pena recordar. Antes do monumental "Like a Rolling Stone" (7'53''), bem audível, surge uma voz do público que acusa Bob Dylan de traição. «JUDAS !», berrou um tipo.
Bob Dylan, que aquecia já os dedos para brilhar com aquela espectacular canção, pega no microfone e responde desdenhosamente:
«I don't believe you ! You're a lier !»
E rebenta a música.

Sempre quis contrariar aquilo que esperavam ou queriam dele. Foi isso que percebi quando assisti a dois concertos que ele deu em Lisboa com uma diferença de 5 anos. Totalmente diferentes um do outro. No último alterou tanto as versões das canções que ficaram praticamente irreconhecíveis. Ninguém as cantava. E como a garganta danificada não ajudava a perceber a letra, ficámos assim: quem é este gajo ?
Um mito que, ao contrário de muitos outros, quis alcançar esse estatuto sem ter que morrer.

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