terça-feira, 4 de maio de 2010

o último tango em paris

Andava há anos para ver este filme.
Mas anos, são mesmo anos. Depois de ouvir o meu pai falar dele durante parte da minha adolescência e vida adulta, quando finalmente o encontrei em DVD, ainda o tive na prateleira durante mais dois anos até que decidi pôr a "película" a correr. Parecia ter pudor ou, talvez, medo de estragar a ideia que construíra. Como se preferisse guardá-lo num canto da imaginação etérea. Mas a vida é concreta e, portanto... pu-lo a rodar.
Parte da magia deste filme está na aura que o rodeia. Como aconteceu em Portugal, o simples facto de a censura o ter proibido dava-lhe uma dimensão quase mítica. Pessoas da idade dos meus pais iam a França só para ver o filme. E a verdade é que ele vive dessa dimensão e daquilo que outros nos transmitem.
Tive em casa um pai que, sempre que me falava deste filme, o rotulava de a experiência erótica por definição, o erotismo no seu estado final. E com estas ideias, fui criando uma certa imagem do filme. Que seria isto, afinal ? Um Emanuele ?, pornografia ?  o quê ?
A verdade é que "O Último Tango em Paris" é um romance. Uma história de amor. Louca, absurda, bonita. Não é, hoje, passados quase 40 anos sobre a sua estreia, um filme erótico. Acho que nunca o foi. E, no entanto, grande parte das duas horas do filme são passadas dentro do velho apartamento onde ele (Marlon Brando) se encontra com ela (Maria Schneider) para matarem a sua sede de sexo. Mas não é um filme erótico.
É um romance. Ele, atormentado pela morte da mulher, quer suicidar-se no corpo dela. Ela quer saber o nome dele, de onde vem, o que faz, com quem fode. Ele não lhe diz nada. Mas acabam sempre no apartamento.

Depois, o filme muda. Ele apaixona-se por ela.
Percebemos isso quando Bertolucci nos mostra Paris fora do apartamento. Uma ponte. Um salão onde se dança o tango, ele a correr atrás dela na rua (julgo que vêm dos Jardins do Luxemburgo). Embriagado, mas apaixonado, a querer contar-lhe tudo sobre si. O nome, a idade, que gere um hotel, o que lhe aconteceu na vida. Embriagado, de whiskey, porque só assim lhe podia dizer tudo. Que a amava.
Mas para ela é tarde. Ela já não quer. Quando quis, ele não queria. E agora arranjou um namorado, com quem vai casar, penteadinho, que é certinho e lhe vai dar uma vida certinha, aborrecida e normal.
Ele persegue-a, quer-lhe dizer que a ama, que já não se quer suicidar nela. Dança com ela, mas ela não sabe o que é o amor dele. Confusa, masturba-o uma última vez. Mata-o.

Fica-se assim. Com aquela sensação meia amarga de Vinicius de Moraes de que "a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro nessa vida..."

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