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sábado, 23 de setembro de 2023

30 anos da gestação


Uma das grandes vantagens de termos 4 décadas (e meia) feitas. Já estávamos cá e assistimos a tudo em primeira mão. Ninguém nos contou.

domingo, 1 de maio de 2022

teen spirit


«O espaço onde ensaiávamos era uma estrutura semelhante a um celeiro que fora convertido num estúdio de demos, trinta minutos a norte de Olympia, num subúrbio de Tacoma. Um simples degrau acima de uma cave velha e húmida, com aquecimento e um pequeno sistema de som (sem falar numa daquelas alcatifas felpudas de gosto bastante duvidoso), pelo que servia bem para as nossas simples necessidades. O Kurt e eu fazíamos animadamente aquele percurso cinco dias por semana num Datsun B210 que, sabe-se lá como, lhe tinha sido oferecido por uma senhora de idade, mal conseguindo subir a Interstate 5 sem que as rodas caíssem (o que, de facto, aconteceu com uma delas, as porcas espalhadas pelo acesso de gravilha no meio da escuridão). A nossa música era a única coisa que desviava os meus pensamentos dos senãos daquela nova vida que abraçara, a única coisa que fazia com que tudo valesse a pena.

(...) Enquanto o longo inverno se transformava em primavera, passámos incontáveis horas neste estúdio a preparar canções para aquele que viria a ser o álbum agora conhecido como Nevermind.

(...) À semelhança de todos os outros concertos dos Nirvana em que toquei, foi praticamente transcendente. Mas, em vez de nos limitarmos às canções já editadas, de confiança, naquela noite decidimos experimentar uma que ninguém naquela sala ouvira antes. Uma canção escrita durante o inverno naquele pequeno celeiro frio em Tacoma. O Kurt aproximou-se do microfone e anunciou:
- Esta canção chama-se "Smells Like Teen Spirit".

Nem um pio. Então, o Kurt lançou-se no riff de abertura e, quando o Krist e eu arrancámos com a canção, a sala veio abaixo. Corpos aos saltos, gente em cima de gente, um mar de ganga e flanela suada à nossa frente. Tranquilizante, para dizer o mínimo, e sem dúvida não a reação com que contávamos (embora certamente tivéssemos a esperança de que assim fosse). Não se tratava de uma canção nova "comum". Aquilo era outra coisa. E talvez, apenas talvez, todos aqueles meses a passar fome, a gelar, com saudades dos meus amigos e família na Virgínia enquanto sofria com o opressivo inverno do Noroeste Pacífico naquele minúsculo apartamento imundo, tivessem sido um teste à minha força e perseverança, a música sendo o meu único consolo e recompensa. Talvez aquilo fosse suficiente. Talvez aquele mar de ganga e flanela suada à beira do palco fosse tudo aquilo de que precisava para sobreviver. Se tudo tivesse acabado ali, talvez tivesse voltado alegremente para a Virgínia como um homem mudado.

Enquanto o Kurt e eu enchíamos o velho Datsun para a viagem até Los Angeles, lá no fundo, sabia que não ia voltar. Com a mochila de viagem ao ombro, olhei uma última vez para aquela minúscula divisão à qual chamara casa nos sete meses anteriores, tentando gravar cada pormenor na minha mente, para nunca perder a memória nem a importância daquele lugar na minha vida. Para garantir que o que quer que viesse nos próximos tempos tinha sido construído ali. E, quando fechei a porta para sair, o meu coração estava de novo a explodir com uma sensação de finalidade, como uma agulha a cravar-se na pele, a deixar memórias esborratadas de momentos que nunca hão de desaparecer.»

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

sábado, 27 de agosto de 2016

no jubileu de prata do 'Nevermind'


"(...) Enquanto Courtney carregava o fardo, o resto da cena de Seattle pagava um preço menos público pelo suicídio de Cobain. Os movimentos rock raramente permanecem com o glamour intacto por mais de uns três anos, e os comentadores da imprensa britânica proclamavam já a morte da grunge antes de Kurt ter cumprindo a sua profecia.
Algo despeitadas por verem a sua agenda ditada dos Estados Unidos, as revistas semanais de rock no Reino Unido desejavam ardentemente o aparecimento de um novo fenómeno que substituísse a grunge nas suas capas, e assim nasceu a Britpop. Com um apelo cru às necessidades mais básicas dos rapazes adolescentes - copos, gajas e porrada à porta dos bares - a Britpop foi a antítese perfeita da ambiguidade sexual e angústia dos Nirvana de Kurt Cobain.
Como as bandas Merseybeat em 1965, ou as punks em 1981, a esquadrilha do grunge de Seattle era composta por homens fora do seu tempo, muitos dos quais ficaram sem trabalho depois da morte de Cobain. Dois anos antes, os californianos tinham subido a costa até ao estado de Washington para conseguirem  alguma credibilidade. Agora, a simples menção de Seattle era suficiente para arrasar as perspectivas de qualquer banda, a menos que se pudessem gabar de ter um cantor que tivesse fornicado com Courtney, ou um guitarrista que tivesse comprado a Kurt droga ou uma espingarda.
A cena musical da cidade continuava vibrante e ecléctica, como sempre tinha sido desde o início dos anos 80, mas para o mundo exterior o fascínio dessa Washington de bilhete postal tinha-se dissolvido num ar viciado. Se alguma vez tinha existido um som de Seattle, já ninguém estava interessado em ouvi-lo depois do Verão de 94.
Os únicos sobreviventes foram aqueles que transcenderam as suas origens geográficas e subiram a uma escala mais ampla. Eddie Vedder recusou as tentativas da imprensa de o transformar num Cobain Mark II, tendo os Pearl Jam tomado um rumo que combinava metal, rock alternativo e o apelo comercial com facilidade e algum bom gosto. Quando Neil Young os escolheu para o álbum e digressão Mirrorball, o seu estatuto como deuses do rock tornou-se inabalável. Pondo de parte a predilecção de Vedder por gestos à la Bono e por exibições estudadas de ansiedade e angústia, os Pearl Jam pareciam oferecer a solução perfeita para o dilema  underground/overground. Mas não são os Nirvana, nem nunca o serão."

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Requiem

Last time I saw you, you were on stage
Your hair was wild, your eyes were bright
And you were in a rage
You were swinging your guitar around
Cuz they wanted to hear that sound
But you didn't want to play
And I don't blame you
(...)
They said you were the best
But then they were only kids
Then you would recall the deadly houses you grew up in
Just because they knew your name
Doesn't mean they know from where you came
What a sad trick you thought that you had to play
But I don't blame you

("You are Free", 2003)

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

20 anos Nirvana


Há certos adjectivos que do uso estão quase mortos, mas esta capa é (porque é) mítica. E o disco um espécie de despertar para muito boa gente que anda para aí e já está nos trintas.
Malta que se lembra onde estava quando o disco foi para as prateleiras das lojas de música. Antes da FNAC secar a Valentim, a Roma, a Strauss, a discoteca do Apolo 70, ou outras mais pequenas. Tantas.
Malta que estava no 9º ano.
24 de Setembro de 1991. 9º ano. E as aulas mal tinham começado.
O primeiro single lançado tinha um nome que explodia e que incitava logo ao motim: "Smells like Teen Spirit".
What the... ?
A primeira vez que o ouvi estava em casa do meu velho amigo Diogo aka o Torgal. Era o único dos amigos que tinha uma aparelhagem stereo no quarto. Sony. Toda preta. Com aparelho para CD's e comando à distância. Duplo deck para cassetes - PLAYER e REC - e sem gira-discos. Era um regalo para os olhos.
Os outros (como eu) tinham de ir para a sala ouvir música no aparelho do pai quando mais ninguém estivesse em casa, o que quase nunca dava.
Portanto, o Diogo começou cedo a sua colecção de CD's que (obviamente) não podia emprestar. E tinha sempre as últimas novidades.
9º ano. 13 anos. Anos de liberdade descomprometida. Chamou-nos lá a casa e disse: venham ouvir isto. Ficámos pasmados. Atordoados. Pedi-lhe logo que me gravasse o Nevermind e fui para casa escutá-lo bem. Todo de enfiada. Tinha comprado uma cassete de 90 minutos, o que dava para ter o disco todo no lado A. Acho que a pus a tocar num velhinho Walkman. Para não assustar a Mãe que dava explicações na sala do lado.
E pronto. A conquista estava feita. A bandeira plantada. Chamavam-lhe Grunge, que vinha da revolta.
Como já escrevi noutro lado, de repente já era lícito mandar os professores à merda. BAAAHHHHHHH ! Ou, pelo menos, de não nos importarmos muito com eles.
E depois o clip. A MTV já existia, mas poucos tinham parabólica e TV Cabo não havia. Deve ter sido no TOP+ que assisti ao culminar da Revolução. Um grupo de miúdos num campo de basket, aos encontrões, um gajo de cabelo loiro e desgrenhado, com uma camisola às riscas e olhar atormentado, a arranhar uma Fender, também aos encontrões, e um velho Contínuo, a tombar de um lado para o outro agarrado à vassoura.
Depois seguiam-se outros temas que rapidamente se tornaram clássicos: In Bloom, Come as You Are, Lithium, Polly, Drain You, Territorial Pissings, On a Plain ou o esvaziante Something in the Way.
E só depois disto tudo é que apareceram os Pearl Jam.
20 anos, catano. Mítico.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

5 de Abril de 1994 -


Seattle. Oiço na televisão que os Nirvana acabaram.
Com o tiro só que Kurt Cobain enfiou por ele adentro. E um bilhete de despedida. Fico não órfão. Pasmado pelo Nevermind que já passou e terminou.

sábado, 10 de abril de 2010

Something in the Way

No outro dia acabei a noite de copos na casa de um amigo para mais uns... copos e cigarros. Bytheway fiquei com a garganta fodida. Ainda estou.

A dada altura, eram para aí umas quatro da manhã, demos por nós a ver isto




A discussão começou quando alguém (já não sei bem quem) disse que estes tipos, um trio de acordes meio básicos, completamente desarranjados, desalinhados e outros "ados", tinham revolucionado a nossa geração. O Fuller gosta de ser do "contra". Por isso, do alto da sua acuidade musical, manda-nos à merda. Que os "Beatles" (gente sagrada para mim) é que tinham feito todas as revoluções, que tinham melodias e letras cheias de verdades, que os nossos pais é que tinham tido sorte porque eles tinham tido uns tipos cultos e musicalmente dotados para cortarem com a geração anterior, etc, etc, num sem fim de argumentos lógicos e imbatíveis.
Tudo em polvorosa. Todos nos lembrámos do release do "Smells like teen spirit" e de como, naquele 9º ano, de repente já era lícito mandar os professores à merda. Mesmo.
Eis então que, da quietude do seu sofá, surge um remansado "Buiça" com o argumento final:
"Mas, Fuller, isso não interessa para nada, pá! Melodias, letras, quando se pode simplesmente dizer: «Estamos fartos do que nos contam, BAAAHHHHHHH ! Não nos venham com lérias, BAAAHHHHHHH !»" E o "Buiça", de língua de fora.
O Fuller à rasca. Acabou logo ali a discussão.
Este post não é sobre a juventude ou aqueles anos de uma livre alegria descomprometida.
É que a vida é contraditória com'ó caraças. Por isso aqui ficam os Monstros de Abbey Road. No Paralelo 23.