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quinta-feira, 30 de outubro de 2025

letter to a friend

É quase meia noite. Neste dia, em 1993, à porta do "Viper Room", um clube nocturno em L.A. que pertencia a Johnny Depp, um jovem de 23 anos caía para nunca mais. Era actor, um dos melhores da sua geração. Gostávamos dos filmes dele. Ia actuar com a sua banda onde também tocavam dois elementos dos Red Hot Chili Peppers. Mas estava a ter uma overdose. E a namorada, Samantha Mathis, e o seu irmão, Joaquin, assistiram a tudo sem poder nada. 

Ficou ali para sempre. O seu nome era River Phoenix.

Mais tarde, em 1996, Michael Stipe, havia de escrever-lhe uma carta que nunca lhe enviou. 

Entregou-a no álbum "New Adventures in Hi-Fi". É quase meia noite e hoje lembrei-me disto.

sábado, 20 de setembro de 2025

"O Ano do Macaco"


«Prolongo a minha estada na cidade de Pessoa, embora não seja fácil dizer o que ando bem a fazer. Lisboa é a cidade ideal para nos deixarmos levar pelo tempo. Manhãs em cafés a escrevinhar umas coisas em mais um caderno, parecendo que cada página em branco oferece uma fuga, ao receber a fluidez constante da caneta. Durmo bem, sonho pouco, limito-me a existir apenas num intervalo que ninguém interrompe. Num passeio ao crepúsculo, a música ecoa pela velha cidade, evocando em mim a voz harmoniosa do meu pai a trautear baixinho Lisbon Antigua, precisamente uma das suas melodias favoritas. Lembro-me de, em criança, lhe ter perguntado o que queria dizer o título. Ele sorriu e disse que era um segredo.
E agora, amigos meus, repicam os sinos ao início da noite: Candeeiros iluminam as ruas calcetadas. No meio de um silêncio que lembra os quadros de Edward Hopper, faço o caminho que Pessoa fez tantas vezes. Um escritor capaz de criar personalidades diferentes, com maneiras distintas de ver o mundo, e tantos diários, assinados por tantos nomes. Caminhando pelas calçadas de paralelepípedos, passo por uma janela e vejo um senhor todo bem-posto ao balcão de um bar, ligeiramente debruçado, a escrever qualquer coisa num caderno. Está de sobretudo castanho e chapéu de feltro. Tenho o impulso de querer entrar, mas reparo que não existe porta.»

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

"a mobilizing energy"


A few words by Patti Smith

I wrote today

Read on Substack


visto aqui.

sexta-feira, 22 de março de 2024

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

segunda-feira, 30 de março de 2020

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Devoto

«Porque escrevemos ?, pergunta em uníssono o grande coro de quem escreve.
Porque não nos podemos limitar a viver.»

sábado, 7 de janeiro de 2017

O Astrágalo



«Talvez seja errado falarmos de nós mesmos quando escrevemos sobre outrem, mas pergunto-me se na verdade me teria tornado no que sou, sem ela. Ter-me-ia continuado a comportar com o mesmo atrevimento ou enfrentado as adversidades com esta tenacidade feminina, se não tivesse Albertine como guia? Os poemas que escrevi quando era jovem teriam a mesma força mordaz sem ter tido Astragal como livro de cabeceira?
Descobri-a, de forma acidental, quando vagueava por Greenwich Village, em 1968. Era Dia de Todos os Santos, facto que mais tarde registei no meu diário. Estava com fome e a precisar de um café, mas primeiro passei pela Eight Street Bookshop para dar uma vista de olhos nas promoções. Havia colecções da Evergreen Review e traduções obscuras das editoras Olympia e Grove Press – novas escritas que a populaça evitava. Eu andava à procura de alguma coisa que tinha mesmo de ter: um livro que fosse mais do que um livro, com certos sinais que me pudessem levar por um caminho inesperado. Senti-me atraída por um rosto surpreendente e remoto – impresso em roxo sobre fundo preto – numa capa poeirenta proclamando que a sua autora era uma “Genet no feminino”. Custava 99 cêntimos, o preço de uma tosta de queijo e um café no Waverly diner, do outro lado da Sexta Avenida. Eu tinha um dólar e um bilhete de metro, mas depois de ler as primeiras linhas estava conquistada – uma fome derrotou a outra e eu comprei o livro. O livro era Astragal e o rosto da capa pertencia a Albertine Sarrazin. Ao voltar a Brooklyn de metro, devorando o exemplar já usado, fiquei apenas a saber que ela tinha nascido em Argel, era órfã, estivera a cumprir pena e escrevera dois livros na prisão e um em liberdade, e morrera pouco antes, em 1967, quase a fazer 30 anos. Encontrar e perder uma possível irmã quase ao mesmo tempo tocou-me profundamente.  Estava a aproximar-me dos 22 anos, longe de Robert Mapplethorpe. Previa-se que aquele ia ser um Inverno duro, já que tinha deixado o calor de certos braços pela incerteza de outros. O meu novo amor era um pintor que aparecia sem avisar, lia em voz alta passagens de Nossa Senhora das Flores de Genet, fazia amor comigo e depois desaparecia durante semanas. Essas foram noites de uma centena de sonos: nada acalmava a minha agitação. Estar presa no drama da espera – pela musa, por ele – era uma tormenta maliciosa. As minhas próprias palavras não bastavam; apenas as de outrem poderiam transformar a infelicidade em inspiração. Em Astragal encontrei essas palavras, escritas por uma rapariga oito anos mais velha do que eu, já morta.
(...)
Albertine, a pequena santa dos escritores independentes. Quão rapidamente fui arrastada para o seu mundo – pronta a escrevinhar pela noite fora, com canecas de café a ferver e a parar apenas o tempo de refazer o risco nos olhos com Maybelline. O seu jovem mantra foi aceite com todo o coração, o meu espírito maleável infundido.
(...)
Aos dez anos, foi violada por um membro da família do padrasto. Depois de tentar fugir, os pais mandaram-na para um reformatório de raparigas paradoxalmente chamado Bom Pastor. Era um sítio duro, onde ela era humilhada e onde lhe retiraram o seu nome de baptismo, Anne-Marie. Aos 13, tinha um caderno de lombada em espiral, um registo precioso das suas observações perspicazes; foi confiscado depois de o perfume de lírios-do-vale que usava ter sido considerado demasiado forte. Era pequenina e bonita, armada da vontade discernível de Joana D’Arc ao ser julgada, e fugiu do reformatório para as ruas de Paris para eventualmente levar uma vida de prostituta e pequena ladra. Aos 18 foi presa, com uma cúmplice, por roubo à mão armada e condenada a sete anos de cadeia. O seu último deslize valera-lhe quatro meses de prisão em 1963 por palmar uma garrafa de whiskey. Escrevia todo o tempo: durante a adolescência, no amor e no abandono, dentro e fora da prisão, escrevia.
A vida é muitas vezes o melhor filme. O dela terminou tristemente, num hospital, onde, fatigada, sorria para o seu amante, Julien, entregando depois o seu destino a um anestesista negligente. Que sonhos havia debaixo daquelas pálpebras cobertas de Maybelline enquanto estava a ser transportada – um futuro com Julien, paz e prosperidade, o reconhecimento? Todos eram possíveis, porque finalmente estavam ao virar da esquina. Eles tinham-se casado e despedido do crime. Deixou o mundo amada, mas, tal como quando nele entrou, numa nuvem de incúria.
Santa Albertine da caneta de usar e deitar fora e do perpétuo lápis de olhos. Vivi no seu ambiente. Imaginei o fumo azul do seu cigarro enrolando-se à volta das suas narinas, movendo-se pela sua corrente sanguínea e cavalgando a antecâmara do seu coração. Eu estava com demasiada bronquite para fumar, mas levava um pacote de Gauloises vertes no bolso da saia. Andava de um lado para o outro à espera que o meu pintor viesse e me salvasse do meu presídio auto-imposto, tal como ela tinha esperado por Julien. Nunca a espera foi tão suportável, nem o Nescafé um elixir tão bom. Criei o meu próprio jargão, iniciado com Astragal e completado com La Cavale, o seu romance seguinte, traduzido para inglês como The Runaway, com uma das grandes frases de abertura da literatura francesa: “Esta noite vesti-me a rigor para a minha entrada na prisão: casaco de peles e calças com vinco.”
(...)
Um dia visitarei a sua campa com um termo de café e vou sentar-me um bocado com ela e vaporizar perfume de lírios-do-vale na sua pedra tumular - em forma do osso astrágalo, que Julien colocou em sua memória. Minha Albertine, como a adorei! Os seus olhos luminosos guiaram-me na escuridão da minha juventude. Ela era a minha guia pelas noites de centenas de sonos. E agora ela é vossa.»

'Minha Albertine', por Patti Smith (introdução para a edição americana)

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

(Wild) Horses


Lisboa, 21 de Setembro de 2015. 21h35m. Nova Iorque continua à mesma distância de sempre. 5.400 kms em linha recta, por causa da latitude, e menos cinco horas de fuso. Cidades tão diferentes. Uma a desaguar de luz virgem, a outra explodindo na escuridão. Uma parece que só dia, a outra espreme noite e néons. E se uma nasce do rio, doce e antigo, a outra brota a raiva das ruas sujas, todos os dias travesti. Pedra da calçada vs alcatrão.
Continuam à mesma distância, mas é possível, em não mais que duas horas, sermos cuspidos para o 176 da Bowery, em NYC, onde morreu a velha CBGB, meca do punk dos anos 70.
E a culpa é desta velhota.
Patti Smith mantém intactas todas as qualidades que fizeram dela o pistão máximo da cena artística-rock. E 'tá-se a cagar.  «Jesus died for somebody's sins but not mine».
O Coliseu transborda. Sua de cheio, e o motivo não é para menos. Passam 40 anos sobre o 'Horses' e viemos à celebração. Está a rebentar e a energia sexual que dele pulsa podia talvez derrubar um governo. Mas isto já é sonhar alto.
Vemo-la de perto e Patti Smith escarra para todas as convenções que possa haver sobre o que uma mulher da idade dela é suposto estar a fazer. Como escarra no palco quando precisa de libertar a garganta para os versos de 'Gloria' ou 'Pissing in a River'. Toca o lado A, vira o disco, pega no braço e coloca a agulha para o lado B. 
A certa altura pede a companhia do anjo de Jim Morrison que quer libertar como os escravos do Michelangelo do mármore em bruto. Chama por Jimi Hendrix e por todos os que se foram antes do tempo, Janis Joplin, Brian Jones, Lou Reed, Fred Sonic Smith, o seu eterno Robert (Mapplethorpe), os Ramones, um a um, Kurt Cobain, Amy Winehouse, a quem oferece canções, como flores que lhes derrama para as campas, lindas e tristes. Do público, ouve-se um grito por William Burroughs.
Atira folhas com versos inteiros pelo ar, convocando sempre a poesia, a mãe de tudo o que faz. A casa de Pessoa. Os livros que ele lia. Os mesmos que nós. Oscar Wilde, William Blake, Whitman ou Rimbaud. Ginnsberg se não tivesse vindo depois. 

Esta mulher não desiste. Com o seu longo cabelo branco, continua sem dono e quer a mesma revolta para nós. Contra as empresas, governos e todos os exércitos do mundo.
"C'mon Motherfuckers !", 'People Have the Power' com o punho bem erguido e a força expulsa das suas entranhas. E essa parece a grande utopia. Olhem para os gregos.
Mas ao mesmo tempo, mamma, com um amor imenso por nós. Ternura nos braços, entre canções e carradas de cabedal.
De orgasmo em orgasmo, e quando o corpo já não pode mais, mete o som de velhos rebeldes nos microfones. Velvet Underground e The Who pingando em suor e no meio de muito fumo.
Para fechar a Performance esfolando a guitarra e rebentando, uma por uma, as cordas da sua Fender, a quem depois beija com gratidão a despedida, numa muralha de feed-back.
I am You. 

domingo, 7 de junho de 2015

Sorry, Granny. Não deu.



Ou o Porto a dar-nos música. E baile.

domingo, 12 de agosto de 2012

Ócio (cap. 2)


[1.10.2011, 'Bookmark', Bleeker St., NYC]

«Robert beckoned me to help him stand, and he faltered. "Patti", he said, "I'm dying. It's so painful."
He looked at me, his look of love and reproach. My love for him could not save him. His love for life could not save him. It was the first time that I truly knew he was going to die. He was suffering phisical torment no man should endure. He looked at me with such deep apology that it was unbearable and I burst into tears. He admonished me for that, but he put his arms around me. I tried to brighten, but it was too late. I had nothing more to give him but love.
I helped him to the couch. Mercifully, he did not cough, and he fell asleep wit his head on my shoulder.»

'Just Kids' - Patti Smith

terça-feira, 19 de junho de 2012

patti smith


«Quando era mais nova toda essa energia física, sexual, política era importante. Agora, nos meus 60 anos, a minha energia pode ser diferente e possa estar focada noutros assuntos, mas continuo a achar que o rock & roll é uma forma muito válida de comunicar, como era nos anos 60.
Hoje talvez existam outras formas de comunicar criativamente, em grande parte por causa  dos avanços tecnológicos, mas parece-me importante que todos encontremos princípios de união, de coesão e de partilha, a todos os níveis, porque a verdade é esta: hoje temos toda essa tecnologia mas nem sempre a usamos para estarmos mais próximos e unidos. Pelo contrário, vivemos num mundo cada vez mais fragmentado. O rock pode unir.»

'ípsilon', 15-06-2012