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segunda-feira, 17 de abril de 2023

não é fácil estar à altura do Maestro, mas estes senhores dão conta do recado

 


"Perto de Malá Strana, apenas a cinco minutos da praça dos Malteses, fica a ilha de Kampa. É uma ilha artificial, rodeada por canais. Um deles é conhecido como o canal do Diabo. Um sítio fantástico, onde a lenda diz que nos podemos reencontrar com os nossos entes queridos depois de mortos. Mas não estou muito seguro de que o sortilégio ainda funcione. Os tempos vão maus para a magia. Os tempos vão maus, em geral."

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

terça-feira, 25 de junho de 2013

La vie était belle

"Les indiens attendaient en silence. Le fils du Chef Cornstalk, Ellinipsico, était avec eux... Il essayait de se souvenir si le soldat qui s'approchait ressemblait à quelqu'un... à quelqu'un qui mériterait d'ètre mort...
Ce soldat c'était Zapaniah Lee. Sa fiancée l'avait quitté, Il voulait mourir et depuis longtemps il attendait la balle qui mettrait fin à la vie qu'il n'avait plus le courage de supporter.

CRACK !

Cette balle, Zapaniah la reçut en plein front et en l'espace d'un éclair il pensa à la bière au rhum qu'il ne boirait plus... à sa fiancée... et il comprit que c'était stupide de mourir... mais oui... La vie était belle !
Quand il voulut crier... Zapaniah avait fini de penser..."



O tomo 2 esperava. Olhava para ele como a um órfão. Não se pode ler um volume 2, sem ler primeiro o primeiro tomo. Não se faz isso a Pratt. Seria imperdoável ! 
"Mas acha que lhe vendia esta edição, capa dura, por 3 euros !, se também tivesse o volume 1 ?!?", respondeu a senhora italiana da 'Ler Devagar'. "Esgotadíssimo !", continuou com um sotaque trocista e final.
Não acredito. Arrisco e compro na mesma o vol. 2. Hei-de encontrar-lhe o irmão. Afinal, sou duro de teimoso. E um livro nunca acaba. Não é como o dinheiro. Não sai da circulação.
Meses à espera. Quilómetros de procura obsessiva. Sempre a sentir o martelo na cabeça. Nas prateleiras das livrarias, na Feira, na net - horror ! -, e sempre "indisponível". Que palavra horrível para se referir a um livro. Devia ser proibido. Como se tivessem o livro com eles, mas não o quisessem dispor. 
Quase cheguei a acreditar que o futuro era mesmo trair o Pratt e perder o primeiro comboio.
Mas não. A vida é bela. Foi preciso ir ao Porto. E depois de passar naquele alfarrabista da rua do 'Candelabro', dobrar a esquina da José Falcão, onde, por acaso ou atracção, entrei e o descobri, logo à primeira rusga, por causa da lombada, exemplar único, por uns simbólicos 20 euros (ed. da 'Casterman').

quarta-feira, 14 de março de 2012

Quanto tempo o tempo tem ?



"O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa."
Sophia de Mello Breyner Andresen
Antologia, Homenagem a Ricardo Reis, 1972


sexta-feira, 24 de junho de 2011

Sem título


Estranhas que a vida continue.
Acontecem estas coisas, e estranhas que a vida não pare, suspensa para sempre, para outro dia apenas quando doer menos e possas regressar à tona.
Olhas para a janela e lá fora o carros circulam e as buzinas apitam. As pessoas saltam dos autocarros, os miúdos têm de ir para escola porque o despertador já tocou há meia-hora.
A rotina dos outros serpenteia pelo meio de ti sem dar por nada.
E os discos continuam a ter música e o Verão também chega. O vento ainda sopra. Os frutos têm de se apanhar e as ervas de se cortar. Dizem os motores dos jardineiros da Câmara.
Estranhas que depois de tudo o coração ainda bata. Mas bate.
Invejo o pesado elefante ansião que passa na planície seca da Savana, e se retira da manada quando a vida é demais e está na hora de morrer.
Se tudo passa, tudo vai passar.

domingo, 1 de maio de 2011

fim-de-semana de 716 páginas

"Cassino, Italia 1944. La Collina del Monastero si erge sul campo di battaglia insanguinato. Fortificato dai tedeschi, costellato di posti di osservazione, mitragliatrici e mortai, è una immobile ma costante minaccia per gli uomini al riparo dietro le trincee: la manovra di sondamento che tentano di eseguire spianerà loro la strada per Roma. Ma la nostra storia parla di uomini e non di montagne..."

segunda-feira, 7 de março de 2011

Longínquas Ilhas do Vento


- Olhem quem vem aí ! Corto Maltese !!!
- Boa noite... Já nos conhecemos ?
- Uma vez, quando era pequena, molhei-te as calças. Sou a filha mais nova de Parda Flora, de Buenos Aires...
- És a Esmeraldinha ?
- Sim... A Esmeraldinha.
- Porque vieste para Mosquito ?
- Essa é uma pergunta séria ?
- Ouve Esmeralda... Lá fora, mataram um homem que vinha aqui entregar uma maleta. Antes de morrer, falou do Rumbita e de Boca Dourada... Sabes do que se trata ?
- A minha Mãe amou-te muito, Corto, mas tu complicaste-lhe a vida. Agora não venhas complicar também a da filha... As tuas perguntas são perigosas...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

"Sob a bandeira dos piratas"*

- Os marinheiros brasileiros que afundaram o barco levaram o pescador ferido... disseram que amanhã... mas... não estás a ouvir-me, Corto. Em que pensas ?

- Penso que as mulheres seriam maravilhosas se pudéssemos cair-lhes nos braços, sem lhes cair nas mãos.


*Trazido às minhas mãos pelas minhas outras mãos.
Nunca antes editado em português, acabadinho de estampar pela ASA, em capa dura, com fotografias e aguarelas, já devorado e só ainda não na prateleira ao pé dos irmãos porque gosto de ficar a olhar para ele até dizer Já está ! e não quero que já esteja.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A good woman


Ela quis convencê-lo para convencer-se também a si. Era esse o seu segredo.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Sybille


[O Tenente Tenton encontra-se só, em frente de uma tenda...]

- Como vai, Tenente ?
- Ah ! É você, Sybille ?
- Está preocupado ?
- Sim... Talvez sim ! Eu queria dizer-lhe uma coisa, Sybille... Terrivelmente difícil...
- Diga, Tenente !... Eu sou sua amiga...
- Sybille... Eu... Eu... Eu amo-a...
- Mas, eu...
- Como poderei explicar-lhe ?... Quer ser minha mulher ?
- Tenente, sinto-me muito honrada com a sua proposta, mas não posso aceitar... Compreende-me, não compreende ? Eu não devia ter insistido para que falasse... Boa noite !
- Não, Sybille... A culpa é minha !

NB: Sybille afasta-se. Depois volta, corre e abraça longamente o Tenente Tenton. Cai-lhe uma lágrima. Vai-se embora.

[Assim termina esta aventura, um pouco tristemente, talvez...]

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O Tigre da Malásia


Sandokan: Sur qui avez-vous tiré, Marianne ?

Marianne: Comment sur qui ? Mais sur le tigre... Et je l'ai fait pour vous empêcher de faire la bêtise de le poignarder avec votre kriss.

Sandokan: Vous me faites du tort, Milady... Mon kriss est prêt à lui arracher le coeur.

Marianne: Oui, oui... Je sais bien que vous êtes courageux... Mais un tigre reste un tigre.

Sandokan: Qu'importe... Je voudrais qu'il me cause de telles blessures... Que... J'en aurais pour toute une année.

Marianne: Ah... Et pourquoi donc ?

Sandokan: Parce que mon coeur se brise à la pensée que Je devrai un jour vous quitter. Mais si le tigre me mettait en pièces Je serais contraint de rester auprès de vous.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Irmãos gémeos

"Certains auteurs deviennent des mythes. À cause de ce qu'ils ont écrit, mais aussi, dans une certaine mesure, indépendamment de ce qu'ils ont écrit.
Parfois, leur oeuvre devient une glose sur leur vie elle-même, tout au moins pour ceux qui leur vouent un culte.
Nous ne parlons pas de Saint-Exupéry: cette histoire de Pratt raconte qu'il est un mythe; il ne s'agit pas d'une reconstruction de son oeuvre, c'est plutôt une glose fantastique sur sa vie. Mais je soupçonne Pratt d'être lui aussi devenu un mythe pour beaucoup de ses lecteurs. J'en ai les preuves."

Umberto Eco


"Je raconte toujours la vérité comme s'il s'agissait d'un faux. À la différence de beaucoup d'autres qui racontent des choses fausses en voulant qu'elles soient vraies, je vous raconte la réalité comme si elle était fausse et c'est là qu'elle devient double, triple, et le lecteur comprend ensuite que quelques-unes des choses que j'ai dites étaient vraies et alors, c'est avec un intérêt plus grand qu'il part à leur recherche."

Hugo Pratt

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O meu pequeno índio

('Fort Wheeling', Hugo Pratt)

Se os teus pais fossem índios, terias nascido índio, serias um menino índio, a correr na pradaria. Atrás de um cão ou de um gato. Terias nome de índio. Serias o Todo-Sorrisos.
Porque tu, rapaz, tu és todo alegria. Não há dia que não te apanhe de manhã sem te ver logo feliz. Com os teus olhinhos negros. Com esses caracolinhos levados que foste buscar talvez ao Avô Luís. Com tudo. Ou quando chego a casa e te me vens agarrar, todo brilho. Radiante. Puto: és tramado. Um mistério ainda para mim.
Não és índio. Mas és.
Um pequeno patife incapaz de parar, um pirata que só sossega quando o cansaço é já demais. Um rapazinho fascinado pelos discos do pai que insiste em tirar do sítio. Pelos livros espalhados pela casa que só estão bem quando os pões no chão. Um malandro que já chutas na bola e adoras tomadas... e os brinquedos que apanhas da mana, e as folhas das plantas, que arrancas à bruta, e as portas dos armários que tens de abrir (150 vezes) e tirar tudo o que vês lá dentro. E trepar a tudo o que é alto. E abanar e fazer barulho. E as cordas da minha guitarra eléctrica.
Apanhei-te, meu pequeno guerreiro, a dar cabeçadas na porta de vidro que dá para a varanda. Como te rias ! Até doer. Mas que diabo fazias tu, miúdo ? E quando reparaste que tinhas a plateia da tua irmã, repetias a brincadeira. Tive que te pegar e tirar dali, para não ficares com um alto na testa.
Não enganas ninguém, rapaz com feitio. Brigas se as meninas mais velhas da casa se metem à toa contigo. E reclamas, e protestas e elas vêem que é a sério. E já não te tiram o que guardas na mão.
Tu que és o Todo-Sorrisos, com nome do último rei dos Visigodos.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Casaco Verde

[Pandora em "A Balada do Mar Salgado",
de Hugo Pratt]
Conheceram-se em Janeiro. Ele sabia porque foi num dia frio e o fim do ano antigo tinha sido há pouco tempo.
Ela vinha metida dentro de um casaco verde comprido. Comprado talvez numa loja romântica de Berlim ou Nova Iorque. Enfiada nuns óculos escuros para não se lhe tocar. Por se ter levantado cedo. Foi então que se viram. Os olhos bateram-se e ele estremeceu. Num choque. Violento e sem explicação. Inesperado para os dois. Não se esperavam assim. Não se esperavam sequer.
Ele afundou os olhos no chão, nos papéis, para onde pudesse fugir. Melhor assim. Espreitava. 
Estava zangado. Tinha que estar. Estava assustado. Com o que não percebia. Como podia alguém flanar tão inocente sobre o real. Como podia alguém parecer pairar indiferente sobre aquele mundo. Da chatice. Do problema. Como ? Zangou-se. Falou-lhe mal. Apertou-a. Censurou. Talvez tenha abanado a cabeça. Zangou-se. Ela não respondeu. Sorriu de leve.
Depois disse-lhe que tinha que fazer uma coisa. Que ia fazer uma coisa. Ela não queria. Ele explicou. Deu-lhe várias razões. Todas possíveis, todas válidas. Nenhuma verdadeira. Como podia aquela honesta doçura, a verdade das palavras, a franqueza da verdade, a crua realidade entrar no mundo dúbio dos homens ? Num ringue torto e falso  ? Como podia aquela vida em estado puro, aquela aparente loucura ir para o meio de uma rua suja ? Não podia. Ele não queria. Só se não o pudesse mesmo evitar. E mesmo que só lhe apetecesse morder em quem lhe queria fazer mal. Ele, que fora feito para a luta, que se pelava sempre por uma, que não virava a cara, que por dentro só pensava em desfazer o sacana, assustou-se. Por ela. Lembrou-se que atacar era também não estar lá. E convenceu-a. Não convenceu. Mas fê-lo na mesma.

Nunca mais falaram. E o tempo passou. Muito. Imenso. Sem custar.
Um dia toca o telefone. Várias vezes. Nunca estava. Ela finalmente atende. Tratam-se por você. Ele não aguenta. Pergunta-lhe se pode por tu. Ela pede "Por favor!". Encontraram-se então. De novo o casaco verde comprido. Uma, duas, várias vezes. Coisa nova. Amor. Amor é amor. Escrevem-se. Algumas vezes. Depois deixam. Voltam. Mas pouco. Encontravam-se. Quando se viam havia tudo. Como se sempre se soubessem. Nem que fosse só num beijo roubado ao pescoço.
Mas havia um tempo. Cruel, feroz e assassino. A ele revoltava a vertigem do tempo. Não tinha tempo. Nunca. Para dizer o que queria. Para meter cá fora o que lhe rebentava por dentro. Confuso e sem jeito ele fazia qualquer coisa. Confundia. Não sabia como. Parecia outro. E por estarem longe, pareciam outros. Que não se conheciam. 
Se ele visse o tempo, agarrava-o. Como um miúdo. Como um homem, pelos colarinhos. Contra a parede. Com força. Olhava para dentro e ouvia o Jeff Buckley dizer que era "too young to hold on, and much too old to break free and run".
Ela também queria o tempo. Com tempo. Pairando. Flanando. Sem pressa de o matar. Haviam de se reencontrar.

Ele sabia que podia-se encontrar com a dor. Que dor, se é vida ? Que a vida só vale a pena se vier toda. Cheia. Dos bons e dos maus cheiros, e daqueles que se demoram a perceber.
Queria partir todos os relógios. Rasgar os calendários e dormir com o cheiro dela.