sábado, 10 de abril de 2010

Regresso ao Futuro *

Tinha 12 anos.

Está cá tudo.

Meia-final da Taça dos Campeões Europeus. Segunda mão.
No Estádio da Luz, 120.000 pessoas. Provavelmente mais. Naquela altura as bancadas eram de betão. Cabia lá toda a gente.
Uma eliminatória que, algum tempo depois, o nosso Mozer (que é Flamengo, mas sempre foi do Benfica), narraria assim:


«Vesti o equipamento, fiz a minha oração para que corresse tudo bem e não houvesse lesões e fui o último a sair do balneário do Marselha. Ia andando pelo corredor e vejo a equipa toda parada à espera. “Então? Vamos ?!”, disse eu. Subo a escada e vejo o Eusébio do outro lado e quando ele passa é um barulho ensurdecedor, que nem no Maracanã ouvi. E de repente estou só eu lá em cima: fui o único a subir os degraus. Quando o público me vê, começa a vaia brutal e eu, virado para trás, só via os olhinhos dos meus companheiros, espreitando lá em baixo, nos degraus. Eu chamava-os e eles respondiam “espera aí, deixa passar isso.” E aí eu pensei: pronto, perdi o jogo. Tínhamos grandes jogadores como o Papin, o Chris Waddle, o Abedi Pelé, mas não conseguimos render e talvez tenha sido do público porque os jogadores do Marselha não tinham o hábito de passar por isso.»

 
Inferno. Demência. Total. Benfica.
Ao minuto ’84, ou por aí, o resultado em 0-0. Na primeira mão tinha ficado 2-1 para o Marselha, ou seja, estávamos eliminados.

Veloso ganha a bola na esquerda, mete-a para a linha de fundo onde estava o Paneira ou o César Brito que a recebem. Com dois jogadores do Marselha em cima, ganha-se o corner.
O Valdo chuta de canto. Magnusson desvia a bola com a cabeça e, no meio de dois centrais contrários…. VATA.
A sagrada mão de Vata.

Que mão !
A Luz vem abaixo. Os franceses que relatam o jogo (ouçam bem !) arrancam cabelos, desesperados, histéricos. Femininos, até.
Droit au but ! Não é isso que está escrito no emblema do Marselha ?
Como já disse muitas vezes, uma mão como a do Vata é sempre lícita.
 


É sempre uma bonita mão.

É virtude.
É logro. Um poema. É eterna.
É maradona. É tango.
É uma gambetta, esse milagre argentino chamado finta e engano.
Tem que ficar.
Tem que ser golo. Foi golo.
E, pronto, dois anos depois de Estugarda, o Benfica de novo na final da TCE. Porque o Benfica é o Benfica.
E o Benfica jogou futebol. Nesse dia o Benfica jogou futebol.

* No mês passado voltámos a eliminar o Marselha.

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