Não me lembro quem é que teve a ideia. Provavelmente foi a meio de um jantar ou depois de uns copos. "E que tal Marrocos ?"
A malta do costume alinhou logo.
A malta do costume alinhou logo.
Éramos seis, depois sete (o Ordep trouxe a namorada), e havia uma velha carrinha verde petróleo, a maltratada Peugeot 505 do Fuller. De revisão feita e extensão de seguro.
Combinámos tudo à pressa. Eu e o Jack London ainda tínhamos um exame de Processo Penal para fazer. Os outros iam apanhar-nos à Faculdade e partíamos.
Uma da tarde. O Fuller aparece à hora combinada. A buzinar e a fazer piões no meio do parque de estacionamento da Católica. Foi uma entrada em grande. Tudo a olhar.
Uma da tarde. O Fuller aparece à hora combinada. A buzinar e a fazer piões no meio do parque de estacionamento da Católica. Foi uma entrada em grande. Tudo a olhar.
Largámos Lisboa como se fosse pó, a Páscoa, os códigos e os colegas que ainda dissertavam sobre as perguntas do exame. Era o último ano do curso. Alguma coisa puxava para o Sul. Para o calor. Para a areia. Para os homens de pele escura e bigodes cheios. Para trás ficavam os primeiros meses do ano 2000. Mas depressa soubemos que deixávamos tudo o que conhecíamos.
Pegámos nas mochilas, saltámos para a carrinha e arrancámos. “Vamos lá conhecê-los, rapaziada!”
O Mahgreb.
Ninguém sabia bem o percurso. Nas mochilas, algumas roupas, enlatados, mapas, lanternas, água e cassetes para o rádio da 505. Rolling Stones, Beatles, Ben Harper, Pearl Jam e, claro, Pink Floyd e Leonard Cohen para a noite. Um par de botas, meias quentes, o meu blusão de cabedal para enganar o frio do deserto, uns cadernos para escrever, canetas. O Ordep levava a máquina fotográfica com rolo para slides.
Não perdemos um minuto. Era a primeira vez.
Metemos gasolina e apanhámos o caminho para Beja. Vimos as placas de Aracena e Sevilha. Não parámos. E a 505 só dava 100.
Chegámos a Algeciras às dez da noite. O conta-quilómetros dizia 620. Boa média, pensámos.
Às dez e meia partia um ferry para Tânger. Comprámos logo os bilhetes. Mas não embarcámos. Demasiada pressa. Embora fosse Espanha, já não estávamos na Europa da vertigem. As coisas ali cantam noutro ritmo, com outra calma. Há que negociar, esperar. O dinheiro que sai depressa do bolso não é aceite e quem entra a correr é porque foge.
De maneira que tivémos que encontrar jantar. Uns bocadillos rellenos de qualquer coisa num pardieiro mal amanhado e umas cervejas espanholas.
Só saímos às seis da manhã. Para Ceuta. Até lá dormimos todos (quem conseguisse) nos bancos coçados da 505. Pus-me de cabeça para baixo para arranjar espaço. Claro que não preguei olho.
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